Sergio Ferreira do Amaral*
Daniel Moutinho Pacata**
A sociedade da informação e do conhecimento é um território de preocupação constante. Constitui, sem dúvida, um dos campos decisivos de transformação da cultura e da educação de nossos dias.
As mudanças no sistema escolar, em função da chegada das novas tecnologias do conhecimento, nos remete à necessidade de estudar a relação entre comunicação e educação de modo interdisciplinar, baseado nas reflexões teóricas dessas duas áreas, procurando resgatar a unidade intrínseca destes tratados que nem sempre se encontraram unidos.
Esta inter-relação comunicação e educação não é um processo relativamente novo, mas se nutre de fontes bem consolidadas. Vem configurada por um saber teórico que procede das ciências da comunicação aplicadas aos meios. Complementa-se com as fontes da pedagogia e da didática, que são capazes de explicar e compreender os processos de ensino e aprendizagem que acontecem tanto nos ambientes formais como nos informais.
O final do século 20 colocou nas instituições escolares um novo cenário tecnológico: repleto de satélites de comunicação, de fibra óptica, de informação digitalizada, de computadores, de realidade virtual, em resumo, no meio de uma grande explosão de comunicação audiovisual. Toda essa explosão tecnológica, no entanto, trouxe também um novo cenário social: globalização, desenvolvimento do comércio internacional, mudança na produção industrial, transformação de valores culturais.
As instituições escolares vêm enfrentando todas essas mudanças com crises e contradições: reformas, recursos insuficientes, desmotivação de estudantes e professores, desorientação e incertezas. A tecnologia, de uma perspectiva global, influiu nesta situação mais pelos efeitos que foram gerados do que pela incidência no seu interior. O fato é que a incorporação tecnológica na educação é pobre e lenta, principalmente em países como o nosso. Isto explica a pressão e a necessidade das mudanças.
O consumo das novas tecnologias de comunicação, em especial da Internet e da televisão, é uma realidade inquietante, não só pela quantidade de tempo que diariamente são dedicados a estes meios, pelos diversos setores da sociedade, mas também pelos valores das mensagens transmitidas. Hoje em dia, praticamente tudo é visto pela tela da televisão ou pela tela do computador. Assim, é necessário que a instituição escolar esteja preparada para educar com os meios. A educação terá que capacitar pessoas que irão enfrentar um mundo digital de uma forma reflexiva e crítica.
A integração do sistema clássico da TV com o mundo das telecomunicações da informática, onde a internet possibilita a interação e navegação, fez surgir a nova televisão, a TV digital interativa.
A educação para o uso da TV digital interativa encontra sua máxima expressão quando professores e alunos têm a oportunidade de criar e desenvolver através dos meios suas próprias mensagens. A expressão através da TV interativa, como estratégia motivadora e desmistificadora, requer, portanto, não apenas decifrar a linguagem da comunicação, mas sim servir-se dela.
Incorporando esta experiência, alunos e professores podem perceber significativamente a construção da realidade que todo conteúdo mediático comporta. Esta faceta expressiva é fundamental para conseguir o objetivo de uma educação com os meios.
A TV digital abre as portas, de uma maneira muito especial, para a alfabetização audiovisual permanente, possibilitando e fomentando nos espectadores a capacidade de produzir e analisar suas próprias mensagens.
Utilizando a TV desta forma, estaremos propiciando uma educação que promova uma intervenção social e coletiva crítica imprescindível para uma formação de cidadania.
A televisão na sociedade capitalista, segundo os teóricos críticos da escola de Frankfurt, é vista como um agente socializador e formador de opinião. O homem, no modelo tradicional de comunicação (emissor-mensagem-receptor), torna-se objeto e a sua finalidade última é o consumo. A introdução da interatividade na TV coloca em crise este modelo, já que o receptor não será mais um receptor passivo, e sim um receptor ativo.
Admitir tal realidade encaminha-nos para o futuro do uso didático da TV na escola. A interatividade, característica dos novos meios, adquire um sentido pleno no terreno educativo.
Educar através da nova televisão, portanto, vai exigir que educadores e comunicadores afrontem três grandes tarefas: a compreensão intelectual do meio, a leitura crítica de suas mensagens e a capacitação para a utilização livre e criativa.
Os caminhos entre a nova TV que será interativa não são contrários aos caminhos da escola. Estes caminhos se cruzam e se revelam na procura de novas aprendizagens, do entendimento e da vida.
O CPqD e a Faculdade de Educação da Unicamp, antecipando-se à esperada difusão da TV digital, estão desenvolvendo tecnologias de serviços para esta plataforma de comunicação. Em função da sua importância, a teleducação e a inclusão digital foram escolhidas como temas principais. As tecnologias desenvolvidas não se limitam, no entanto, a somente essas aplicações. Elas poderão e deverão ser aplicadas no desenvolvimento de novos serviços que abordem outros temas, tais como, telemedicina, entretenimento, mensagem, comunicação, transação e informação. Os dados na forma de vídeo, áudio, gráfico e texto poderão utilizar a futura plataforma de TV digital para serem acessados, baixados, armazenados e vistos mais tarde, de forma que a TV possa ser um meio tão rico de acesso à informação propiciando uma inclusão digital para as camadas mais carentes da nossa sociedade, tendo em vista que 89% dos lares brasileiros têm uma TV.
O serviço apresentado neste artigo faz parte do Projeto de TV Digital Interativa que está sendo desenvolvido no CPqD com recursos do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel). Este projeto é subdividido em três sub-projetos:
a) o primeiro projeto visa a implantação de uma Estação de Serviços Experimentais, sendo a primeira estação de transmissão aberta em TV digital interativa no Brasil, a ser instalada em Barão Geraldo - Campinas - SP;
b) o segundo projeto é o de desenvolvimento de serviços interativos para a TV digital centrado em serviços para a teleducação que têm como eixo uma pedagogia comunicacional de apoio ao professor em sala de aula, apoio ao estudante em casa e a interação pais - escola tomando como campo experimental três escolas de ensino fundamental localizadas em Barão Geraldo, Campinas, SP;
c) e o terceiro projeto de desenvolvimento de serviços para a convergência da rede de radiodifusão com a rede de computadores (Internet).
A perspectiva da implantação destes serviços na comunidade envolvida é o desenvolvimento de um papel ativo, ao invés da passividade tradicional dos meios, propiciando a elaboração de propostas que possibilitem a relação da TV digital e o telespectador ativo, participativo e crítico dos meios, na escola e fora dela.
Assim, estaremos oferecendo uma seqüência de atividades sistematizadas sobre o uso da TV Digital na comunidade escolar, de maneira que a educação audiovisual deixe de ser uma exceção no decorrer do ano letivo e se converta em um dos objetivos educativos.
Finalmente, estaremos buscando uma proposta inovadora de interação dos meios com a escola e sua comunidade que trate a educação audiovisual de maneira interdisciplinar, na tentativa de integrar experiências anteriores e abrindo caminho para o futuro do qual seguramente fazem parte as novas tecnologias.
*Sergio Ferreira do Amaral é professor na Faculdade de Educação da Unicamp;
**Daniel Moutinho Pacata é engenheiro do CPqD
Fonte
Oi Joanirse! Andei por aqui pesquisando para o Mídias-UFGRS que estou fazendo. Está excelente teu blog...bjus...Fernanda(NTE-Livramento)
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