sábado, 27 de dezembro de 2008

Educação e Vida

Uma visão sobre Educação e Humanidade!
Produção: Prof Sérgio Motta

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Pedagogia do Blog


Trabalho realizado por professores da oficina Pedagogia do Blog - II Educação Com Ciência


Informação e comunicação na educação


José Manuel Moran

Comunicamo-nos, dentro e fora da sala de aula, porque temos carências, porque precisamos de muitas informações, de compreender o mundo, os outros e a nós mesmos. Comunicamo-nos para conseguir tornarmo-nos mais humanos, mais equilibrados, abertos, sensíveis, positivos. Comunicamo -nos para aprender, para desenvolver nossas melhores qualidades pessoais, profissionais, emocionais, familiares, estéticas. Comunicamo -nos na busca de integrar o eu dividido, as tensões que nos dispersam, os antagonismos que nos puxam em várias direções.

Comunicamo-nos para fugir da solidão, porque nos sentimos sós, profundamente sós nos momentos decisivos - ao nascer, ao morrer e diante das muitas escolhas que vamos realizando ao longo da vida.

Comunicamo-nos para sentir o prazer de estarmos juntos; para realizar-nos em todos os níveis possíveis - no emocional, no intelectual, no familiar, no profissional. Comunicamo-nos para mostrar aos outros que temos valor e para sentir-nos valorizados, acolhidos, produtivos.

Comunicamo-nos porque experimentamos medos, desejos perturbadores, violências externas e internas. Comunicamo -nos para ver se as outras pessoas – professores, colegas, pais, encontraram mais respostas, se podem iluminar o nosso caminho, se conseguem compartilhar conosco um pouco de calor, de afeto, de apoio mútuo, já que todos, de alguma maneira, nos sentimos desorientados.

Pela comunicação procuramos estruturar, organizar o caos pessoal - as incertezas de cada um, as nossas contradições. Procuramos também estruturar, organizar o caos grupal, as incertezas nas relações interpessoais, nas múltiplas interações de grupos pequenos e grandes, sólidos e mutáveis, masculinos e femininos, reconhecidos e desconhecidos, conservadores e inovadores. Também procuramos compreender o “caos social”, a complexidade das interações estruturais, as interrelações entre o local, o nacional e o internacional, entre o pequeno e o grande, entre o universo masculino e o feminino, da criança e do adulto, da cultura erudita e a popular, entre o trabalho e o lazer, entre o material e o espiritual, entre o passado, o presente e o futuro. A comunicação nos ajuda a criar balizas, pontos de referência para perceber, julgar, agir. Nos ajuda a tornar-nos visíveis para os outros e a encontrar o nosso espaço pessoal, profissional e emocional diante dos demais.

Sempre estamos nos comunicando. Direta ou indiretamente. Por trás dos livros, da tela de cinema, da televisão, da tela do computador há comunicação entre pessoas. Por trás das máquinas, das mídias, há pessoas - ou programas feitos por pessoas - que se comunicam conosco, em tempo real (online) ou não, de forma visível ou virtual.

A comunicação clara e ambígua na educação

Já percebeu que há diferenças nas formas de comunicar-nos? Algumas delas expressam claramente a mensagem (o que querem dizer) e a intenção de quem está falando. Há outras, que deixam o outro confuso ou porque as mensagens admitem várias interpretações ou porque não conseguimos ter certeza das reais intenções de quem está falando.

É freqüente haver falhas de comunicação da intenção. Professores muito controlados, “secos”, que sentem dificuldades em abraçar, em expressar emoções, têm mais dificuldades em fazer passar aos seus alunos o seu afeto real e toda a sua riqueza interior.

Para que os alunos tenham certeza do que comunicamos, é extremamente importante que haja sintonia entre a comunicação verbal, a falada e a não verbal, a comunicação gestual, a que passa pela inflexão sonora, pelo olhar, pelos gestos corporais de aproximação ou afastamento. As pessoas que tiveram uma educação emocional mais rígida, menos afetiva, costumam ter dificuldades também em expressar suas reais intenções, em comunicar-se com clareza. Costumam expressar-se de forma ambígua, utilizam recursos retóricos como a ironia, o duplo sentido, o que deixa confusos os ouvintes, sem conseguir decifrar o alcance total das intenções do comunicador.

A “comunicação” pedagógica autoritária e a participativa

Nos diversos grupos e organizações em que participamos - principalmente os familiares, os educacionais e os profissionais - encontramos formas de gerenciamento diferentes, umas tendendo mais para o autoritarismo, o controle pessoal ou burocrático, e outras, para a participação.

No gerenciamento autoritário tudo se subordina ao controle. O controle pode ser pessoal - alguém centraliza as decisões principais - ou burocrático - a estrutura é hierárquica e só a cúpula decide; os escalões intermediários executam o que vem de cima e têm pequeno grau de autonomia.

Há uma interação autoritária explícita, clara e outra, implícita, camuflada. A maior parte das interações autoritárias é disfarçada. A implícita é mais difícil de perceber, porque vem camuflada dentro de uma roupagem participativa, que convida para a colaboração, o que a assemelha, num primeiro momento, à interação real.

Normalmente ninguém quer mostrar-se impositivo. Os maiores ditadores justificam sua truculência com uma linguagem triunfalista, cheia de promessas, de realizações, de paternalismo. Decidem por nós. “Sabem o que é melhor para nós”. E disfarçam a dominação com apelos afetivos ao patriotismo, à grandeza, à “mãe pátria”. Em outras instâncias, como a familiar e a educacional, o autoritarismo se mascara mediante expressões afetivas de interesse pelo filho, pelo aluno, pelo uso de diminutivos carinhosos, pela bajulação. É uma fala que simula interação, preocupação e escamoteia todos os mecanismos de controle.

Em um colégio importante de São Paulo, do que mais reclamavam os alunos não era das aulas, mas da diferença entre o discurso liberal, participativo dos diretores e professores e a prática disfarçadamente autoritária. Os alunos constatavam que o que eles falavam não tinha repercussão real. As reuniões eram mais formais do que efetivas, eram mais para apresentar decisões prévias do que para buscar soluções em conjunto. Por que a reclamação dos alunos? Quais os efeitos desse tipo de interação? As interações autoritárias camufladas perpetuam o controle e dificultam a nossa evolução pessoal, grupal e institucional.

No gerenciamento participativo, de um lado há organização: códigos, estruturas, esquemas, limites, normas claras e implícitas, hierarquia; de outro, essa organização é flexível, se adapta às circunstâncias, confia nas pessoas, apóia inovações, desburocratiza os procedimentos, trabalha de forma sinérgica. O gerenciamento participativo pode acontecer em grupos menores, como o familiar, assim como em grupos maiores como em escolas e empresas, com vários níveis de interação, de comunicação aberta.

Na comunicação participativa professores e alunos estão abertos e querem trocar idéias, vivências, experiências, das quais ambos saem enriquecidos. A fala é franca, objetiva, participativa. Há graus diferentes de interação real e de comunicação, mas o importante é essa atitude de busca, de querer comunicar-se, de trocar, crescer, dentro de limites negociados ou estabelecidos.

As organizações são compostas por pessoas. Quanto mais evoluem as pessoas, mais evoluem as organizações.

Dica:
Veja o conceito de organizações que aprendem em Peter Senge, A quinta disciplina; Arte, teoria e prática da organização de aprendizagem. São Paulo, Editora Best Seller, 1990

Professores mais abertos, confiantes, bem resolvidos podem compreender melhor e implantar novas formas de relacionamento, de cooperação no processo de ensinar e aprender. Estão atentos para o novo, conseguem ouvir os outros e expressar-se de forma clara, não ficam ressentidos porque suas idéias não foram eventualmente aceitas. Cooperam em projetos que foram decididos democraticamente, mesmo que não coincidam com todos os seus pontos de vista.

As organizações educacionais e outras como as empresas são como as pessoas. Encontramos organizações mesquinhas, fechadas, autoritárias, voltadas para o passado, que repetem rotinas, que são incapazes de evoluir. Existem outras organizações que evoluem perifericamente, que só fazem mudanças cosméticas, de fachada, de marketing, sem mexer no essencial. Existem também organizações volúveis, que mudam de acordo com as modas do momento, com os gurus de plantão, que adotam criticamente as novidades, as últimas tecnologias. Há, finalmente, organizações que possuem uma visão integrada, aberta, flexível das pessoas, dos seus objetivos, do seu futuro. Organizações interessantes são as que vêem, em cada problema, um desafio. Organizações problemáticas são as que enxergam mais os problemas do que as oportunidades e fazem destas novos problemas.

Em que tipo de organização você se encontra?
O que a tem feito assim?
Que contribuição você tem dado para isto?
Há necessidade de mudanças?
Como então torná-la ainda melhor?
O que você pode fazer para isto?

Todos os grupos e instituições, que evoluem e crescem, trazem consigo formas de integrar organização e criação, normas e liberdade, autoridade e confiança. As organizações que mais evoluem são as que reúnem pessoas abertas, que sabem gerenciar seus conflitos pessoais, que sabem comunicar-se e aprender.

Pessoas maduras, abertas – diretores, coordenadores, professores,
funcionários - são os responsáveis pelas mudanças necessárias nas
organizações educacionais.

O autoritarismo da maior parte das relações humanas interpessoais, grupais e organizacionais espelha o estágio atrasado em que nos encontramos individual e coletivamente de desenvolvimento humano, de equilíbrio pessoal, de amadurecimento social. E somente podemos educar para a autonomia, para a liberdade com processos fundamentalmente participativos, interativos, libertadores, que respeitem as diferenças, que incentivem, que apóiem, orientados por pessoas e organizações livres, não é mesmo?

Que fatores contribuem para as necessárias mudanças na educação? Essas dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos
enriquecidos.

O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo tempo está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a nossa ignorância, as nossas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses.

Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se, de agir. São um poço inesgotável de descobertas. Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses. São docentes "papagaios", que repetem o que lêem e ouvem, que se deixam levar pela última moda intelectual, sem questioná-la.

É importante termos educadores/pais com um amadurecimento intelectual, emocional, comunicacional e ético, que facilite todo o processo de organizar a aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado pronto, o estímulo que a repreensão, o apoio que a crítica, capazes de estabelecer formas democráticas de pesquisa e de comunicação.

Dica:
Além dos autores e livros indicados anteriormente é importante consultar o livro Reinventando la educación; Nuevas formas de gestión de las instituciones educativas, coordenado por Louis V. Gerstner. Barcelona, Paidós, 1996.

Por que se diz que a escola está atrasada? Por várias razões. Ela está atrasada em relação aos avanços da ciência, pois se ensina o que já está aceito, cristalizado. Está atrasada na adoção de tecnologias, porque são vistas com desconfiança. Também são muito caras, principalmente nos primeiros tempos e há, ainda, medo de que venham a ocupar o lugar do professor. Uns as adotam de forma acrítica, pensando que vão resolver mil problemas. Servem mais como marketing do que como meios de avançar no ensino-aprendizagem. A maioria vai adiando o máximo que pode o domínio das tecnologias ou costuma utilizá-las de forma superficial. A escola se insere, também, numa perspectiva de futuro, mas tem dificuldades em enfrentá-lo, porque é difícil prever as mudanças que os alunos terão que enfrentar em todas as dimensões das suas vidas nos próximos anos.

Temos dado muita ênfase na educação à mudança de currículos, a conteúdos programáticos e pouca, a essa dimensão mais integrada de conhecimento. Ajudar a conhecer e a comunicar-se implica em ampliar o nosso conhecimento do conteúdo e nossas formas de interagir com ele.

Predomina ainda a ênfase no conteúdo racional e passado pelo professor. Aprenderemos mais integrando os conteúdos e as habilidades; a lógica e o afeto; o sensorial, o emocional e o racional; o passado e o presente. E, também, dando um peso significativo à comunicação: como dizer o que entendemos, como comunicar aos outros a nossa percepção e visão do mundo.

É importante compatibilizar os objetivos sociais, grupais e os pessoais. Há momentos em que enfatizamos mais os individuais (quando pedimos sugestões ou que os alunos relacionem uma determinada atividade com a sua vida). Em outros momentos predominam os objetivos grupais (o que é importante para este grupo). Em outros, os sociais: o que a sociedade espera deste grupo, nesta situação (por exemplo, o que a sociedade espera de um aluno que passa oito anos no ensino fundamental).

Caminhos que facilitam a aprendizagem

Podemos extrair alguma informação ou experiência que nos pode ajudar a ampliar o nosso conhecimento, para confirmar o que já sabemos, para rejeitar determinadas visões de mundo, para incorporar novos pontos de vista.

O conhecimento se dá fundamentalmente no processo de interação, de comunicação.

A informação é o primeiro passo para conhecer. Por que falamos isso? Porque a informação é o resultado da organização de dados que estavam soltos, de oferecer algum tipo de estrutura que facilite a sua compreensão. Conhecimento é o processo de percepção, decodificação, compreensão e incorporação de algumas informações, que se tornam significativas para cada um de nós. O que é conhecer? Conhecer é relacionar, integrar, contextualizar, fazer nosso o que vem de fora. Conhecer é saber, é desvendar, é ir além da superfície, do previsível, da exterioridade. Conhecer é aprofundar os níveis de descoberta, é penetrar mais fundo nas coisas, na realidade, no nosso interior. Sabedoria é o conhecimento percebido dentro de um contexto ético, o conhecimento de quem assume a honestidade intelectual, emocional e de comportamento como atitude fundamental.

É um conhecimento que transforma, não só que se acumula. Conhecer é conseguir chegar ao nível da sabedoria, da integração total, da percepção da grande síntese, que se consegue ao comunicar-se com uma nova visão do mundo, das pessoas e com o mergulho profundo no nosso eu. O conhecimento se dá no processo rico de interação externo e interno. Pela comunicação aberta e confiante desenvolvemos contínuos e inesgotáveis processos de aprofundamento dos níveis de conhecimento pessoal, comunitário e social.

Conseguimos compreender melhor o mundo e os outros, equilibrando os processos de interação e de interiorização. Pela interação entramos em contato com tudo o que nos rodeia; captamos as mensagens, nos revelamos e ampliamos a percepção externa. Mas a compreensão só se completa com a interiorização, com o processo de síntese pessoal, de reelaboração de tudo o que captamos através da interação. Temos muitas chances de interagir, de buscar novas informações. Somos solicitados continuamente a ver novas coisas, a encontrar novas pessoas, a ler novos textos. A sociedade - principalmente pelos meios de comunicação - nos puxa em direção ao externo e não há a mesma preocupação em equilibrar a saída para o mundo com a interiorização, com o ambiente de calma, meditação e paz necessários para reencontrar-nos, para aceitar-nos, para elaborar novas sínteses. Hoje há mais pessoas voltadas para fora do que para dentro de si, mais repetidoras do que criadoras, mais desorientadas do que integradas.

Interagiremos melhor se soubermos também interio rizar, se encontrarmos formas mais ricas de compreensão, que levará para novos momentos de interação. Se equilibramos o interagir e o interiorizar conseguiremos avançar mais, compreender melhor o que nos rodeia, o que somos; conseguiremos levar ao outro novas sínteses e não sermos só papagaios, repetidores do que ouvimos.

Um dos grandes desafios para o educador é ajudar a tornar a informação significativa, a escolher as informações verdadeiramente importantes entre tantas possibilidades, a compreendê-las de forma cada vez mais abrangente e profunda e a torná-las parte do nosso referencial.

Que fatores podem nos levar a aprender melhor e de forma mais prazerosa? Aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos quando relacionamos, estabelecemos vínculos, laços entre o que estava solto, caótico, disperso, integrando-o em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo sentido.

Aprendemos quando descobrimos novas dimensões de significação que antes se nos escapavam, quando vamos ampliando o círculo de compreensão do que nos rodeia, quando como numa cebola, vamos descascando novas camadas que antes permaneciam ocultas à nossa percepção, o que nos faz perceber de uma outra forma. Aprendemos mais quando estabelecemos pontes entre a reflexão e a ação, entre a experiência e a conceituação, entre a teoria e a prática; quando ambas se alimentam mutuamente.

Aprendemos quando equilibramos e integramos o sensorial, o racional, o emocional, o ético, o pessoal e o social.

Aprendemos pelo pensamento divergente, através da tensão, da busca e pela convergência – pela organização, integração.

Aprendemos pela concentração em temas ou objetivos definidos ou pela atenção difusa, quando estamos de antenas ligadas, atentos ao que acontece ao nosso lado.

Aprendemos quando perguntamos, questionamos, quando estamos atentos, de antenas ligadas.

Aprendemos quando interagimos com os outros e o mundo e depois, quando interiorizamos, quando nos voltamos para dentro, fazendo nossa própria síntese, nosso reencontro do mundo exterior com a nossa reelaboração pessoal.

Aprendemos pelo interesse, necessidade. Aprendemos mais facilmente quando percebemos o objetivo, a utilidade de algo, quando nos traz vantagens perceptíveis. Se precisamos comunicar-nos em inglês pela Internet ou viajar para fora do país, o desejo de aprender inglês aumenta e facilita a aprendizagem dessa
língua.

Aprendemos pela criação de hábitos, pela automatização de processos, pela repetição. Ensinar se torna mais duradouro, se conseguimos que os outros repitam processos desejados. Ex. ler textos com freqüência, facilita que a leitura faça parte do nosso dia a dia. Nossa resistência a ler vai diminuindo.

Aprendemos pela credibilidade que alguém nos merece. A mesma mensagem dita por uma pessoa ou por outra pode ter pesos bem diferentes, dependendo de quem fala e de como o faz. Aprendemos também pelo estímulo, motivação de alguém que nos mostra que vale a pena investir num determinado programa, curso. Um professor que transmite credibilidade facilita a comunicação com os alunos e a disposição para aprender.

Aprendemos pelo prazer, porque gostamos de um assunto, de uma mídia, de uma pessoa. O jogo, o ambiente agradável, o estímulo positivo podem facilitar a aprendizagem.

Aprendemos mais, quando conseguimos juntar todos os fatores: temos interesse, motivação clara; desenvolvemos hábitos que facilitam o processo de aprendizagem; e sentimos prazer no que estudamos e na forma de fazê-lo.

Aprendemos realmente quando conseguirmos transformar nossa vida em um processo permanente, paciente, confiante e afetuoso de aprendizagem. Processo permanente, porque nunca acaba. Paciente, porque os resultados nem sempre aparecem imediatamente e sempre se modificam. Confiante, porque aprendemos mais se temos uma atitude confiante, positiva diante da vida, do mundo e de nós mesmos. Processo afetuoso, impregnado de carinho, de ternura, de compreensão, porque nos faz avançar muito mais.

A Internet e demais tecnologias nos ajudam a realizar o que já fazemos ou que desejamos. Se somos pessoas abertas, nos ajuda a ampliar a nossa comunicação; se somos fechados, contribui para controlar mais. Se temos propostas inovadoras, facilita a mudança.

Com ou sem tecnologias avançadas podemos vivenciar processos participativos de compartilhamento de ensinar e aprender (poder distribuído) através da comunicação mais aberta, confiante, de motivação constante, de integração de todas as possibilidades da aula-pesquisa/aula-comunicação, num processo dinâmico e amplo de informação inovadora, reelaborada pessoalmente e em grupo, de integração do objeto de estudo em todas as dimensões pessoais: cognitivas, emotivas, sociais, éticas e utilizando todas as habilidades disponíveis do professor e do aluno.

Tecnologia e desafio...




"A simples introdução dos meios e das tecnologias na escola
pode ser a forma mais enganosa de ocultar seus problemas de fundo sob a égide da modernização tecnológica.
O desafio é como inserir na escola um ecossistema comunicativo
que contemple ao mesmo tempo:
experiências culturais heterogêneas,
o entorno das novas tecnologias da informação e da comunicação,
além de configurar o espaço educacional como um lugar
onde o processo de aprendizagem conserve seu encanto".
(MARTÍN BARBERO, 1996, p.12)


*Imagem retirada da Internet

Refletindo relações...


Reflita um pouco sobre as seguintes questões:

- Como você se percebe na relação com o outro?
- Como você se relaciona com o mundo?
- Como se relaciona com a cultura?
- Como são os feedbacks que recebe de seus colegas?

Como vemos o mundo...




Cada pessoa vê o mundo de um jeito específico
e este lhe parece tão firme, tão claro,
que imagina que o outro também deve enxergá-lo da mesma forma.
Mas ao falar com ele, fica-se surpreso quando,
às vezes, não se é bem compreendido,
quando não se aceita imediatamente o que se considera evidente.
O que é claro para uma pessoa só é claro para ela.
Não significa que o seja igualmente para o outro.
O mundo que alguém vê não coincide com o que o outro vê.
Pode ser parecido, mas não o mesmo.
(Moran)

*Imagem retirada da Internet

Etapa 3 - Objetivos


- Compreender que a educação é fundamentalmente um processo complexo de comunicação.

- Conhecer como os meios possibilitam a comunicação com a população e como podemos compreendê-los melhor.

- Identificar as novas formas de aprender e ensinar com o uso das mídias destacando a postura de leitor crítico e de autoria;

- Apresentar o papel das Mídias na Educação (TV, rádio, computador);

- Explorar diferentes linguagens e representações;

- Propiciar o desenvolvimento da visão integradora das mídias na prática docente.

Refletindo sobre Mudanças

Vídeo criado por Georgia Stella Ramos do Amaral

Etapa 2: Atividade 2 - Pesquisa: ferramentas para comunicação e interação


Falando sobre Blogs


O surgimento de blogs, deu-se lá pelos idos de 1990. Aproximadamente na segunda metade da década de 90, Tim Berners-Lee publicou o Blog “What’s New?”. No Brasil, os primeiros registros foram de dois blogs: a) Marcos Zamorin, www.zamorin.eti.br, no ano de 2000; b) e o da gaúcha Viviane Menezes, www.wiredkitsune.net/weblog, que começou a postar em fevereiro de 1998.

Hoje temos infinitos blogs. Cada um com objetivos específicos. Mas de maneira geral um blog serve para apresentar informações, imagens, ser um diário pessoal, compartilhar materiais, etc.

Na área educacional, muitas escolas, professores e alunos se utilizam de blogs para interação e divulgação de trabalhos e atividades. Fazemos aqui uma rápida classificação (existem outras) dos tipos de blogs existentes:

Blogs Pedagógicos: Através deles professores disponibilizam materiais, atividades, projetos, etc., para uma interação com seus alunos. Nele o professor é o mediador fazendo com que o aluno através da interação, da co-autoria adquira aprendizagens significativas.

Blog da Escola: Blog onde são divulgadas as atividades desenvolvidas pela escola, promoções, prêmios, etc. Em alguns há divulgação de trabalhos destaques de alunos e professores.

Blog da Turma: Parecido com o blog da escola, entretanto funciona como um diário de uma turma específica.

Blog do aluno: Utilizado para o aluno registrar seus avanços, estudos, pesquisas, fatos relevantes, etc.

Blogs Temáticos: Abordam determinados temas específicos.

Blogs Pessoais: São um diário pessoal. Ali o blogueiro coloca coisas que considera importante dos mais variados temas.

Apresentamos a seguir alguns exemplos de blogs de professores, de escola e de turma e também alguns blogs onde são postadas atividades desenvolvidas por/ com alunos. Entre esses últimos temos alguns blogs colaborativos:

Blogosfera Marli (http://blogosferamarli.blogspot.com/)
Bloguinfo (http://bloguinfo.blogspot.com/)
Blog da Escola José Mendonça Vergolino (http://jmvergolino.blogspot.com/)
Blog da Turma 81 (http://lpturma81.zip.net/)

Equipe Atitude (http://equipeatitude.blogspot.com/)
Fantasia e Ludicidade na escola (http://fantasiaeludicidadenaescola.blogspot.com/)
Maria Rapaz (http://mariarapaz30.blogspot.com/)
Varal de poesia (http://varaldepoesia.blogspot.com/)
Voo BFP (http://voobpf.blogspot.com/)
Palavra Aberta (http://palavraaberta.blogspot.com/)

Por serem gratuitos e de fácil manuseio, os blogs na área educativa oferecem infinitas potencialidades. Entre elas citamos: possibilitam acesso a informação específica, já organizada; permitem que sejam publicadas de maneira simples, as produções de alunos, professores, da comunidade escolar; permitem ao professor a disponibilização da informação necessária aos alunos; possibilitam a divulgação de atividades; sendo possível também, o que deve ser considerado de suma importância, a interação existente entre alunos, professores e utilizadores.

Entretanto às vezes é preciso ter cuidados. Nem todos os blogs apresentam informações corretas. Cuidados também são necessários na hora de postar. Fotos, textos de outras pessoas exigem permissões.

Finalizando, pode-se dizer que usar blogs em educação é um passo para promover a modernização ou a mudança na educação. Sendo eles portfólios digitais, espaços de intercâmbio e colaboração, de debate ou de integração, funcionam como poderosos recursos pedagógicos, intervindo directamente no processo de ensino e de aprendizagem e potenciando a interacção família/escola.



Fontes de pesquisa:
http://vivacomletras.blogspot.com/2008/10/potencialidades-do-blog-na-educao.html
http://blogvme.blogspot.com/

Etapa 2 - Atividade 1

Refletindo sobre Mudança!





A democratização do ensino exige nova linguagem em classe'

Para o sociólogo suíço, o professor precisa de capacitação para se tornar um tradutor do conhecimento e conseguir modificar sempre sua maneira de explicar até que todos os alunos aprendam.
Lucita Briza

As mudanças de rumo que ocorreram na educação brasileira na última década não foram fruto do acaso. Elas buscaram responder a um desafio: desenvolver no aluno uma série de competências e prepará-lo para entender e transformar o mundo em que vive. As competências são objeto de estudo do suíço Philippe Perrenoud, cujas idéias sobre prática pedagógica influenciaram as reformas educacionais no Brasil.

Em sua última visita ao país, em julho, para participar de um seminário sobre educação e competitividade econômica realizado em Brasília, Perrenoud questionou a validade do próprio tema do encontro, que considerou "excessivamente ambíguo". Apesar disso, reconheceu ser "inevitável" levar em conta a competitividade de um país em tempos de economia global ao investir na educação. No sistema educacional, ele distingue duas instâncias de competição igualmente prejudiciais. A primeira é a que ocorre dentro de uma escola ou de uma sala de aula. A segunda é a que acontece entre as escolas e que pode levá-las a recusar os chamados "estudantes de risco", em lugar de dar oportunidade a todos. "Em educação, não deve haver perdedores", ele justifica.

Com a mesma ênfase que coloca na importância da universalização do ensino, o especialista fala das novas ambições e perspectivas educacionais.

Por que o desempenho do Brasil e dos países da América Latina em geral no ranking internacional de educação ainda é tão ruim?

Em uma pesquisa recente a esse respeito, vi que o Brasil ocupava a 37ª posição. Mas mesmo a Suíça, que é um país rico e desenvolvido, ficava na 17ª. Então, não há motivo para desespero. Existem grandes desigualdades mesmo entre nações muito ricas. Talvez haja tanta distância entre a Finlândia e a Suíça, que são dois países europeus pequenos e ricos, quanto entre a Suíça e o Brasil. Não é apenas uma questão de desenvolvimento, mas um conjunto de fatores complexos. O Brasil enfrenta problemas diversos e, portanto, não me surpreende que a educação brasileira não seja, hoje, ideal. É um desafio extraordinário mobilizar tantos recursos e pessoas. Nenhum governo pode fazer milagres.

A que o senhor atribui o sucesso de suas idéias aqui no Brasil?

Sei do que estou falando, tento ser concreto e busco não me afastar da realidade prática. Além disso, talvez os problemas enfrentados pela escola sejam muito semelhantes em todos os países, apesar das desigualdades de desenvolvimento e da diferente posição geográfica. Em lugar nenhum a educação é eficaz o bastante. O fracasso escolar e a exclusão são problemas universais, assim como a necessidade de levar em conta as diferenças individuais e de uma pedagogia mais construtiva. Por isso, acho natural que possamos nos reconhecer em trabalhos que vêm de outros continentes.

Os problemas na educação são conseqüência da crise do mundo atual ou são crônicos?

Eles mostram uma redefinição das ambições das políticas educacionais. No século 19, a idéia de educação como um direito de todos era revolucionária. Até hoje, no entanto, alguns países conseguiram escolarizar apenas 10% ou 20% de sua população. Já nas nações desenvolvidas, atualmente quase todo mundo vai à escola. Mas, onde todos já sabem ler, escrever e contar, isso já não basta. À medida que o objetivo da escolarização é atingido, ele se desloca. É normal que o sistema esteja sempre em discordância com relação às ambições que se estabelecem na modernidade, na complexidade, na tecnologia.

O peso de novas metas pode desestruturar o sistema educacional?

Não inventamos novas ambições para provocar o fracasso do sistema. Deve-se reconhecer que o nível mundial de educação jamais esteve tão elevado e as pessoas instruídas jamais foram tão numerosas. Mas, diante das necessidades de uma sociedade cada vez mais complexa, existe um déficit não absoluto, mas relativo às exigências dos tempos modernos. É fundamental compreender isso. A culpa não pode ser atribuída só à escola, mas à sociedade tecnológica, que é multicultural, globalizada e apresenta aos indivíduos desafios enormes. Viver hoje em dia é muito mais complexo do que há 50 anos: exige novos conhecimentos, novas competências.

Há quem diga que muitas pessoas trabalham bem com a cabeça, muitas trabalham bem com as mãos, mas poucas sabem trabalhar com as duas ao mesmo tempo. O que o senhor pensa sobre isso?

Essa idéia é um estereótipo. Todos nós trabalhamos com a cabeça. É impossível fazer qualquer coisa sem ela. E mesmo em trabalhos intelectuais há muitos aspectos práticos, como escrever, classificar, gerir o tempo. Não existe oposição entre atividade intelectual e manual. Pelo contrário: é necessário reconhecer que em toda tarefa existe uma parte de inteligência, sabedoria, antecipação e raciocínio. Mesmo um lixeiro ou um porteiro, que parecem fazer algo muito simples, estão sempre tomando decisões, avaliando prós e contras.

O Ensino Fundamental deve preparar para a prática?

Mas que prática? A Educação Básica realmente não prepara para o exercício de uma profissão, mas para a prática da cidadania, da vida social, associativa, sexual, amorosa e familiar. Todas essas vidas são muito importantes, e é possível associar a educação fundamental a elas.

O que o senhor pensa dos ciclos de aprendizagem, que no Brasil são vistos como uma solução de urgência contra a repetência?

Os ciclos de aprendizagem não são uma meta, mas um meio. Não são uma indicação de modernidade ou uma estrutura complicada por puro prazer; são um instrumenmto de trabalho. Devem ser o reflexo de uma pedagogia diferente.

Um dos desafios da educação atual é transpor a linguagem científica e tecnológica para a linguagem da escola. Como se capacitar melhor para isso?

Esse problema não é novo, mas está ganhando importância à medida que a cultura científica se expande. Toda disciplina escolar exige um trabalho de transposição, ou seja, deve tornar-se acessível a um público que não é composto de pesquisadores ou produtores do saber. Dessa forma, toda escola se torna uma imensa empresa de vulgarização, no bom sentido do termo. A formação de professores exige não só que eles dominem o saber mas também que saibam fazer a transposição desse saber. Como explicar frações a alunos de 12 anos? E números negativos a adolescentes de 13? São conceitos muito complexos, que, se forem explicados por alguém que não tem a competência da transposição, ou didática, só serão compreendidos pelos melhores estudantes. Os outros passarão por burros ou preguiçosos. Na verdade, a incapacidade é do educador. Traduzir é a responsabilidade principal do professor. Não basta saber, senão todos nós poderíamos lecionar. É necessário ter a competência específica para ser um tradutor de conhecimento.

Como o professor pode se tornar um bom tradutor de conhecimento?

Essa competência deveria estar no centro da formação inicial, mas infelizmente isso nem sempre acontece. Muitas vezes, no Ensino Fundamental, basta conhecer a matéria para começar a lecionar. Nesse caso, é necessário rever a formação inicial dos docentes para dar mais ênfase às competências de transposição e de gerenciamento do saber. A habilidade se desenvolve ao longo da vida, à medida que surgem os obstáculos. Alguém que explica frações e percebe que talvez quatro de cada cinco alunos não entenderam absolutamente nada de sua aula deverá tentar na aula seguinte ser mais concreto, achar novos exemplos. Esse processo não deve acabar nunca, pois os estudantes se renovam e há sempre alguns para os quais é necessário encontrar uma linguagem nova. Idealmente, um professor que de início era compreendido por três crianças em uma classe de 30 passará a ser compreendido por seis, depois por nove e finalmente por todas.

Agir na Urgência e Decidir na Incerteza é o título de um de seus livros. Como o professor pode agir diante do imprevisível?

Quanto mais qualificado for um profissional, maior deverá ser sua capacidade de enfrentar o imprevisível. Isso se aprende, e não é apenas na carreira de professor que é preciso improvisar. Como preparar as pessoas para isso? É necessário trabalhar a dimensão afetiva: a angústia, o medo de improvisar ou a resistência em abandonar uma estratégia habitual que se revela ineficaz. É uma tarefa que exige lutar contra toda espécie de perfeccionismo e que demanda tempo. A experiência ensina o profissional a discernir uma série de fatores. Um professor experiente sabe o que acontece em sua classe, a tal ponto que seus alunos pensam que ele tem olhos nas costas! Ele escuta ruídos, percebe quando começa a agitação e quando a concentração diminui. Quanto maior sua capacidade perceptiva, maior sua habilidade em improvisar.



Os novos pensadores da educação


Conheça as idéias de seis teóricos sobre temas fundamentais para o professor moderno

Cristiane Marangon, Eduardo Lima



"É preciso substituir um pensamento que isoda e separa
por um pensamento de distingue e une."
(Morin)

"Competência em educação é mobilizar um conjunto de saberes
para solucionar com eficácia uma série de situações."
(Perrenoud)

"Um plano curricular precisa satisfazer, de forma articulada,
todos os níveis de fucionamento de uma escola."
(Coll)

"Só o profissional pode ser responsável por sua formação."
(Nóvoa)

"O melhor jeito de organizar o currículo escolar
é por projetos didáticos."
(Hernández)

"A educação tem de servir a um projeto da sociedade como um todo."
(Toro)



Nos últimos anos, um tema invadiu a agenda de professores, orientadores, diretores, secretários e ministros da Educação: renovar a escola, o que para muitos significa reinventá-la. Reforma passou a ser a palavra de ordem, principalmente na América Latina e na Europa. Os debates, além de deixar claro que a mudança é mesmo necessária, serviram para jogar luz sobre pesquisadores que vêm se dedicando a buscar caminhos para adaptar a realidade escolar aos novos tempos. No Brasil, seis nomes ganharam especial destaque: o francês Edgar Morin, o suíço Philippe Perrenoud, os espanhóis César Coll e Fernando Hernández, o português António Nóvoa e o colombiano Bernardo Toro. Mas você sabe que teorias e idéias eles defendem?

Nas próximas páginas, vamos apresentar um pouco do trabalho intelectual que eles propõem. Em comum, todos carregam o fato de ser "autores de sucesso". Seu prestígio reside, em boa parte, nos livros publicados sobre temas pontuais. Diferentemente dos grandes papas da educação, como Jean Piaget, Paulo Freire ou Emilia Ferreiro, esses autores de vanguarda não têm a pretensão de fazer descobertas geniais. O "negócio" deles é reprocessar idéias já largamente difundidas (e aceitas) e apresentá-las numa linguagem fácil, objetiva e coerente com as necessidades atuais.

Coll, por exemplo, partiu das idéias de Piaget para escrever sobre currículo. Perrenoud desenvolveu o conceito de competências — que o tornou um fenômeno editorial — depois de estudar, entre outros, os ensinamentos de Freire. Toro ganhou fama ao definir as sete bases sobre as quais todo estudante deve construir não só o aprendizado, mas a vida. Morin, o mais idoso da turma, vem há algumas décadas aprimorando a chamada teoria da complexidade. Nóvoa, dedica-se a bater na tecla da formação profissional. E Hernández mesclou várias teorias para difundir os benefícios de se trabalhar com projetos didáticos.

"Eles têm enorme capacidade de síntese", diz Sérgio Antonio da Silva Leite, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "E têm também o mérito de expor suas idéias no momento de redefinição do papel da escola", completa Ana Rosa Abreu, consultora do Ministério da Educação. Conhecer esses seis autores é fundamental para manter-se atualizado e, sobretudo, refletir sobre os problemas de sala de aula. "Não espere encontrar, nos livros, soluções prontas para o dia-a-dia. Elas só surgem com uma interpretação da leitura apoiada na experiência pessoal", explica Ana Rosa.

Luciola Licínio de Castro Paixão Santos, doutora em Formação de Professores pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca outra característica comum aos novos pensadores: textos de fácil compreensão. "Talvez esse seja um dos motivos para o enorme sucesso deles no Brasil." Agora é a sua vez. Afinal, como você já cansou de ouvir, as novidades tecnológicas surgem a toda hora, o mercado de trabalho anda exigente (com os professores e com os alunos), a sociedade reavalia seus valores dia após dia, então é imperativo aperfeiçoar a didática. Conhecendo as propostas de Morin, Coll, Hernández, Perrenoud, Nóvoa e Toro você certamente vai estar mais preparado para superar esse desafio.



Morin
Reformar o pensamento. Essa é a proposta de Edgar Morin, estudioso francês que passou a vida discutindo grandes temas. Pai da teoria da complexidade, minuciosamente explicada nos quatro livros da série O Método, ele defende a interligação de todos os conhecimentos, combate o reducionismo instalado em nossa sociedade e valoriza o complexo.

A palavra complexidade pode, de início, causar estranhamento. O ser humano tende a afastar tudo o que é (ou parece) complicado. Morin prega que se faça, com urgência, uma modificação nessa forma de pensar. "Só assim vamos compreender que a simplificação não exprime a unidade e a diversidade presentes no todo", define o estudioso. Exemplo: o funcionário de uma fábrica de automóveis é capaz de fazer uma peça essencial para o funcionamento de um veículo, mas não chega sozinho ao produto final. É importante ressaltar que Morin não condena a especialização, mas sim a perda da visão geral.

Na educação, o francês mantém a essência de sua teoria. Ele vê a sala de aula como um fenômeno complexo, que abriga uma diversidade de ânimos, culturas, classes sociais e econômicas, sentimentos... Um espaço heterogêneo e, por isso, o lugar ideal para iniciar essa reforma da mentalidade que ele prega. Izabel Cristina Petraglia, pós-doutorada em Transdisciplinaridade e Complexidade na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, diz que as idéias de Morin para a sala de aula têm tudo a ver com o atual imperativo de a escola fazer sentido para o estudante. "Aprende-se mais História e Geografia numa viagem porque é mais fácil compreender quando o conteúdo faz parte de um contexto."

No livro Edgar Morin, Izabel afirma que no mundo todo o currículo escolar é mínimo e fragmentado. Para ela, essa estrutura não oferece a visão geral e as disciplinas não se complementam nem se integram, dificultando a perspectiva global que favorece a aprendizagem. "O conjunto beneficia o ensino porque o aluno busca relações para entender. Só quando sai da disciplina e consegue contextualizar é que ele vê ligação com a vida."

A escola, a exemplo da sociedade, se fragmentou em busca da especialização. Primeiro, dividiu os saberes em áreas e, dentro delas, priorizou alguns conteúdos. Para que as idéias de Morin sejam implementadas, é necessário reformular essa estrutura, uma tarefa complicada. "É difícil romper uma linha de raciocínio cultivada por várias gerações", explica Ulisses Araujo, doutor em Psicologia Escolar e professor da Faculdade de Educação da Unicamp. Mas é perfeitamente possível. Um bom exemplo é pedir que os alunos usem um só caderno para todas as disciplinas. Isso acaba com a hierarquia que muitas vezes existe entre as matérias e mostra que nenhuma é mais importante que as outras. "Na verdade, todas estão interligadas e são dependentes entre si", completa Araujo.



Perrenoud
O sociólogo suíço Philippe Perrenoud é um dos novos autores mais lidos no Brasil. Com nove títulos publicados em português, vendeu nos últimos três anos mais de 80 mil exemplares. O principal motivo do sucesso é o fato de ele discorrer, de forma clara e explicativa, sobre temas complexos e atuais, como formação, avaliação, pedagogia diferenciada e, principalmente, o desenvolvimento de competências.

Esse é um dos pontos mais reconhecidos de seu trabalho. "Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar uma série de situações", explica ele. "Localizar-se numa cidade desconhecida, por exemplo, mobiliza as capacidades de ler um mapa, pedir informações; mais os saberes de referências geográficas e de escala." A descrição de cada competência, diz , deve partir da análise de situações específicas.

A abordagem por competência também é utilizada quando Perrenoud fixa objetivos na formação profissional. No livro 10 Novas Competências para Ensinar, ele relaciona o que é imprescindível saber para ensinar bem numa sociedade em que o conhecimento está cada vez mais acessível:

1) Organizar e dirigir situações de aprendizagem;
2) Administrar a progressão das aprendizagens;
3) Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação;
4) Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho;
5) Trabalhar em equipe;
6) Participar da administração escolar;
7) Informar e envolver os pais;
8) Utilizar novas tecnologias;
9) Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
10) Administrar a própria formação;

"Ele trouxe definitivamente à berlinda a discussão do profissionalismo", ressalta Suzana Moreira, coordenadora pedagógica da Escola Projeto Vida, responsável por cursos de capacitação nas redes pública e particular. Nesse trabalho, ela incentiva a postura reflexiva destacada por Perrenoud. Numa primeira etapa, Suzana assiste a algumas aulas. Em seguida, conversa com o professor e faz com que ele questione a própria atuação. "Só depois de uma reflexão sobre erros e acertos, eu passo os referenciais teóricos. Todos têm o direito de errar para evoluir."

Perrenoud auxilia nessa tarefa ao levantar as grandes dificuldades encontradas por quem assume uma sala de aula. Quando escreveu sobre a comunicação entre aluno e professor, por exemplo, ele fez um levantamento para saber o que o segundo anotava nos cadernos e boletins dos primeiros. Pediu também, nas entrevistas com os colegas, uma lista de observações sobre o que se perde quando a comunicação em classe não funciona. Ao combinar essas informações, chegou a 11 dilemas sobre o assunto, como "Deixar falar ou fazer ficar quieto?" e "Como fazer justiça, sem interferir nas regras do jogo social?" "Embora não aponte a solução, ele tem o mérito de identificar os problemas", afirma Lino de Macedo, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.



Coll
Logo nos primeiros debates sobre a reforma educacional brasileira, em meados dos anos 1990, ficou decidido que o modelo para as mudanças seria o implementado na Espanha sob a coordenação de César Coll Salvador, da Universidade de Barcelona. Das discussões no MEC, das quais Coll participou como assessor técnico, surgiram os Parâmetros Curriculares Nacionais. Desde então, as idéias desse pensador, que já haviam chamado a atenção de algumas escolas de São Paulo, passaram a influenciar toda a nossa rede de ensino.

A principal delas é a necessidade de um plano curricular que satisfaça, de forma articulada, todos os níveis do funcionamento de uma escola — e foi divulgada pela primeira vez no livro Psicologia e Currículo. Segundo Coll, não se pode separar o que cabe ao professor — as aulas — do que é responsabilidade dos alunos — o conhecimento prévio e a atividade. A família e outras instituições que fazem parte desse universo também precisam se fazer presentes. "Para que a criança atinja os objetivos finais de cada unidade didática, temos antes de identificar os fatos, conceitos e princípios que serão propostos; os procedimentos a considerar e os valores, normas e atitudes indispensáveis", afirma. Não é tarefa fácil. Por isso, ele destaca que, em muitos casos, os profissionais dependem de uma formação melhor antes de assumi-la.

"Seu maior mérito é o de reunir de forma harmônica idéias consagradas de grandes teóricos", diz Zélia Cavalcanti, que trabalha na Escola da Vila, em São Paulo, e organizou o primeiro seminário do espanhol em nosso país. Inspirado em Jean Piaget, Coll orienta todo seu pensamento numa concepção construtivista de ensino-aprendizagem. A prioridade é o que aluno aprende, não o que o professor ensina. "Ou seja, o foco principal sai dos conteúdos para a maneira de passar a informação de forma a garantir que ocorra a aprendizagem", explica Zélia.

Em entrevistas e palestras, Coll sempre enfatiza a importância de contextualizar esse novo currículo. "Se o conteúdo trabalhado tiver relação com a vida do aluno, o êxito será maior", ensina Sylvia Gouvêa, do Conselho Nacional de Educação. O filme Nenhum a Menos, do diretor chinês Zhang Yimou, apresenta algumas cenas bem emblemáticas. Bagunceiros e sem atenção enquanto a professora só copia a matéria no quadro-negro, os estudantes mudam de comportamento quando desafiados a resolver um problema real. Na história, ambientada na área rural da China, todos calculam quantas pilhas de tijolos são necessárias para obter o dinheiro necessário para comprar uma passagem de ônibus até a cidade.

O novo currículo proposto por Coll contempla ainda os temas transversais, que devem estar presentes em todas as disciplinas e séries da Educação Básica. O ideal, acredita ele, é que aulas e explicações sobre saúde, sexualidade ou meio ambiente estejam totalmente integradas ao dia-a-dia. Pode parecer complexo, mas é simples. Basta colocar as conversas sobre alimentação saudável, reciclagem, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e a importância do saneamento básico, entre tantos assuntos, na pauta de todos os professores.



Nóvoa
Nenhuma reforma educacional tem valor se a formação de docentes não for encarada como prioridade. O português António Nóvoa traz para o foco a discussão sobre a qualificação profissional, ao reunir artigos de autores que refletem sobre o assunto. Com isso, cria uma base teórica e uma nova concepção, na avaliação de Sérgio Antonio da Silva Leite, da Faculdade de Educação da Unicamp. "Nóvoa quebra a idéia de que para ensinar bem é preciso ter vocação sacerdotal", diz.

Ele chegou a essas conclusões mergulhando em pesquisas, que foram transformadas em livros. Num deles, Vidas de Professores, há uma série de estudos sobre a história do ofício e muitos questionamentos sobre o desenvolvimento da carreira. Por que determinado profissional é engajado e outros não? Por que e como se transformou em uma pessoa assim? O que aconteceu na vida dele? Com base nessas reflexões, o catedrático da Universidade de Lisboa ajuda a entender, do ponto de vista científico e sem aquele velho olhar romântico, o que acontece com quem decide ensinar.

"O aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola, como lugar de crescimento profissional permanente", diz Nóvoa. Um raciocínio que se opõe à idéia tradicional de que a formação continuada se dá apenas por decisão individual — e em ações solitárias. Para ele, esse trabalho é coletivo e depende da experiência e da reflexão como instrumentos contínuos de análise. Por isso, diz, temos de exercitar o que vivemos. O ideal, assim, seria dispor de um programa de formação contínua remunerado, para que os professores pudessem se dedicar à formação sem depender dos salários. "Deve haver um reconhecimento de que a formação é tão importante quanto seu exercício", endossa Leite.

Carlos Garcia, um dos pensadores em que Nóvoa se inspira em suas pesquisas, acredita que o desenvolvimento profissional corresponde ao curso superior somado ao conhecimento acumulado ao longo da vida. Essa teoria derruba a crença de que um bom docente se faz em universidades conceituadas. "Uma boa graduação é necessária, mas não basta", garante Leite. "É essencial atualizar-se sempre."

A tese de Nóvoa deixa mais claro por que não se deve separar a teoria da prática. O Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação, órgão responsável pela política de formação da Secretaria Municipal de Belo Horizonte, estruturou seu programa de aperfeiçoamento de docentes nas teorias do estudioso português. Ele garante aos profissionais da rede o acesso a ações formativas e faz desse direito um instrumento de valorização. "Cada um de nós constrói o conhecimento à medida que trabalha e, por isso, qualquer plano de estudo deve ser feito no interior da escola, onde se desenvolve a prática", conclui Aurea Regina Damasceno, mestre em Educação pela UFMG.



Hernández
Reorganizar o currículo por projetos, em vez das tradicionais disciplinas. Essa é a principal proposta do educador espanhol Fernando Hernández. Ele se baseia nas idéias de John Dewey (1859-1952), filósofo e pedagogo norte-americano que defendia a relação da vida com a sociedade, dos meios com os fins e da teoria com a prática. Hernández põe em xeque a forma atual de ensinar. "Comecei a me questionar em 1982, quando uma colega me apresentou a um grupo de docentes", lembra. "Eles não sabiam se os alunos estavam de fato aprendendo. Trabalhei durante cinco anos com os colegas e, para responder a essa inquietação, descobrimos que o melhor jeito é organizar o currículo por projetos de trabalho."

O modelo propõe que o docente abandone o papel de "transmissor de conteúdos" para se transformar num pesquisador. O aluno, por sua vez, passa de receptor passivo a sujeito do processo. É importante entender que não há um método a seguir, mas uma série de condições a respeitar. O primeiro passo é determinar um assunto — a escolha pode ser feita partindo de uma sugestão do mestre ou da garotada. "Todas as coisas podem ser ensinadas por meio de projetos, basta que se tenha uma dúvida inicial e que se comece a pesquisar e buscar evidências sobre o assunto", diz Hernández.

Cabe ao educador saber aonde quer chegar. "Estabelecer um objetivo e exigir que as metas sejam cumpridas, esse é o nosso papel", afirma Josca Ailine Baroukh, assistente de coordenação da assessoria pedagógica da Escola Vera Cruz, em São Paulo. Por isso, Hernández alerta que não basta o tema ser "do gosto" dos alunos. Se não despertar a curiosidade por novos conhecimentos, nada feito. "Se fosse esse o caso, ligaríamos a televisão num canal de desenhos animados", explica. Por isso, uma etapa importante é a de levantamento de dúvidas e definição de objetivos de aprendizagem.

O projeto avança à medida que as perguntas são respondidas e o ideal é fazer anotações para comparar erros e acertos — isso vale para alunos e professores porque facilita a tomada de decisões. Todo o trabalho deve estar alicerçado nos conteúdos pré-definidos pela escola e pode (ou não) ser interdisciplinar. Antes, defina os problemas a resolver. Depois, escolha a(s) disciplina(s). Nunca o inverso. A conclusão pode ser uma exposição, um relatório ou qualquer outra forma de expressão. Para Cristina Cabral, supervisora escolar da rede pública, a proposta é excelente, mas é preciso tomar cuidado porque nada acontece por acaso. "O tratamento didático é essencial ao longo do processo", destaca.

É importante ainda frisar que há muitas maneiras de garantir a aprendizagem. Os projetos são apenas uma delas. "É bom e é necessário que os estudantes tenham aulas expositivas, participem de seminários, trabalhem em grupos e individualmente, ou seja, estudem em diferentes situações", explica Hernández. Vera Grellet, psicóloga e coordenadora de projetos da Redeensinar, concorda. "O currículo tradicional afasta as crianças do mundo real. A proposta dele promove essa aproximação, com excelentes resultados."



Toro
Uma larga experiência como ativista social conferiu a Bernardo Toro uma atuação com marcante viés educacional. "A escola tem a obrigação de formar jovens capazes de criar, em cooperação com os demais, uma ordem social na qual todos possam viver com dignidade", afirma o intelectual colombiano. "Para que seja eficiente e ganhe sentido, a educação deve servir a um projeto da sociedade como um todo." Por isso, ele defende que a prioridade seja o convívio na democracia, cuja base é a tolerância.

Partindo de sua visão sobre as realidades social, cultural e econômica, Toro elaborou uma lista onde identifica as sete competências que considera necessárias desenvolver nas crianças e jovens para que eles tenham uma participação mais produtiva no século 21. São os Códigos da Modernidade:

1) Domínio da leitura e da escrita;
2) Capacidade de fazer cálculos e resolver problemas;
3) Capacidade de analisar, sintetizar e interpretar dados, fatos e situações;
4) Capacidade de compreender e atuar em seu entorno social;
5) Receber criticamente os meios de comunicação;
6) Capacidade de localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada;
7) Capacidade de planejar, trabalhar e decidir em grupo.

"Quando diz que saber interagir criticamente com os meios de comunicação é uma das competências fundamentais, Toro sinaliza para a importância de que as novas gerações tenham uma postura crítica frente à programação da TV", exemplifica Lúcia Dellagnelo, da Fundação Maurício Sirotsky, doutora em Educação pela Universidade de Harvard. Recentemente, o intelectual acrescentou uma oitava capacidade à sua relação: a de desenvolver uma mentalidade internacional. "Quando o jovem chegar à idade adulta, seu campo de atuação será o mundo", justifica.

"Sua principal contribuição é construir uma ponte entre o mundo real, isto é, o das sociedades modernas em constante transformação, e o mundo da escola, que tem diante de si a tarefa de formar os cidadãos", avalia a professora Lúcia. Toro valoriza também o que chama de saber social, um conjunto de conhecimentos, práticas, valores, habilidades e tradições que possibilitam a construção das sociedades e garantem as quatro tarefas básicas da vida: cuidar da sobrevivência, organizar as condições para conviver, ser capaz de produzir o que necessitamos e criar um sentido de vida. A escola, assim, é apenas um dos ambientes em que ocorre a aprendizagem. A família, os amigos, a igreja, os meios de comunicação as empresas são outras importantes fontes de conhecimento para os indivíduos. Mobilizar, conforme sua definição, é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados.

Fonte: Revista Nova Escola

Etapa 2 - Atividade 3


Por onde começar?

Com a Internet e outras tecnologias surgem novas possibilidades de organização das aulas dentro e fora da escola?

A escola e seus professores podem se organizar para estas mudanças inevitáveis, da forma mais adequada, equilibrada e coerente?

Por onde começar e como continuar?


A tecnologia está aí. Batendo na porta da escola. Influenciando em seu cotidiano e exigindo mudanças. Algumas mundanças já podem ser notadas e parecem que sempre fizeram parte da escola, outras aos poucos vão acontecendo. E na prática didática? Estamos preparados? Quais os desafios?

Com o surgimento da Internet e outras tecnologias, surgem novas possibilidades de organização das aulas dentro e fora da escola. Hoje não é preciso estar na sala de aula para aprender, para trocar idéias... para gerar conhecimento. Diversas atividades diferentes podem ser organizadas: conferências, fóruns, comunidades virtuais, blogs, etc... E essa interação não precisa ser apenas com alunos de uma só escola. Intercâmbios entre escolas de regiões diferentes podem existir.

Mas e dentro da sala? O que pode mudar? Respondo que muita coisa pode mudar. Atividades antes apenas transmitidas pelo professor hoje podem ser vista de outras maneiras. Elas podem deixar de serem estanques, paradas e adquirirem movimento, criadas e produzidas pelo próprio aluno.

Mas tudo isso depende de orientações. Orientações essas que perpassam pelo professor e que fazem com que escola e professores devam se organizar para essas mudanças inevitáveis de uma forma adequada, equilibrada e coerente. Para isso é preciso estudo, pesquisa, diálogo, troca de idéias. É preciso que o professor reflita sobre sua prática e veja como converter essas mudanças em aprendizagens.

Tecnologias de comunicação e interação


José Manuel Moran

As tecnologias de comunicação permitem cada vez mais escolhas. Mas, na prática, há muito mais possibilidades de interação do que interações efetivas. Há um acordo “tácito” entre produtores e consumidores: se oferecem muitas alternativas na área de entretenimento (filmes, games) e de serviços (telemarketing, home-banking) do que em outros campos, como o da informação ou de debates.

O fantástico desenvolvimento de tecnologias pessoais, móveis, mais baratas e cada vez mais interativas está propiciando mudanças significativas nas formas de trabalho, de lazer, de comunicação com pessoas próximas e distantes. Modificam-se as concepções de espaço e de tempo, do que é real e virtual, do que é tradicional e inovador.

A extraordinária expansão destas tecnologias faz com que muitos se deslumbrem e concluam que elas poderão resolver os grandes problemas que nos afligem, que as tecnologias diminuirão as desigualdades sociais, democratizarão o acesso aos bens culturais e econômicos. As redes vão permitir-nos relacionar-nos de forma diferente com o espaço e o tempo, falando, vendo-nos e trabalhando juntos, não importa a que distância e a um custo ínfimo. Poderemos ver-nos, ouvir-nos a distância, fazer compras sem sair de casa, pagar qualquer conta sem ir ao banco, estudar e trabalhar, ficando cada vez mais em casa.

De outro lado, também encontramos muitos críticos de toda essa parafernáliatecnológica, como Neil Postman em Tecnopólio, cheia de gadgets inúteis, de soluções à procura de problemas, que acentuam a acomodação das pessoas, que as encerram mais e mais em casa, que diminuem o contato físico, enquanto aumentam o individualismo e a alienação.

Nem o deslumbramento nem a crítica radical nos ajudarão a compreender melhor como lidar com as tecnologias. Elas nos ajudam e complicam. Nenhuma tecnologia é inocente. Socialmente são introduzidas por grandes grupos , procurando facilitar a nossa vida. Passada a fase de resistência, chega um momento em que o seu uso se torna majoritário e é imposto socialmente. Hoje o computador atingiu esse estágio dominador. Queiramo-lo ou não já está instalado em quase todos os aspectos das nossas vidas e a tendência é, pela miniaturização, a estar presente em todos os momentos e atividades pessoais, grupais e sociais.

Do ponto de vista pessoal, depende de como as utilizarmos. Elas são extensões da nossa mente e fazemos com elas o que fazemos com a nossa pessoa e nossas vidas. Ampliamos nossa busca, comunicação e ação nas mesmas direções. Uma pessoa que lê revistas de fofocas procurará na Internet sites ou fóruns que lhe permitam um contato maior com esses mesmos assuntos. As tecnologias facilitam extraordinariamente nossa vida, mas também não podemos ignorar que a excessiva dependência delas nos torna vulneráveis individual e coletivamente.

É possível criar usos múltiplos e diferenciados para as tecnologias. Nisso está o seu encantamento, o seu poder de sedução. Os produtores pesquisam o que nosinteressa e o criam, adaptam e distribuem para aproximá-lo de nós. A sociedade, aos poucos, parte do uso inicial, previsto, para outras utilizações inovadoras ou inesperadas. Podemos fazer coisas diferentes com as mesmas tecnologias. Com a Internet podemos comunicar-nos - enviar e receber mensagens - podemos buscar informações, podemos fazer propaganda, ganhar dinheiro, divertir-nos ou vagar curiosos, como “voyeurs” pelo mundo virtual.

Cada tecnologia modifica algumas dimensões da nossa inter-relação com o mundo, da percepção da realidade, da interação com o tempo e o espaço. O telefone celular vem dando-nos uma mobilidade inimaginável alguns anos atrás. Posso ser alcançado - se quiser - ou conectar-me com qualquer lugar sem depender de ter um cabo ou rede física por perto. A miniaturização das tecnologias de comunicação vem permitindo uma grande maleabilidade, mobilidade, personalização (vide, telefone celular, notebook, pocket, mp3...), que facilitam a individualização dos processos de comunicação, o estar sempre disponível (alcançável), em qualquer lugar e horário. Essas tecnologias portáteis expressam de forma patente a ênfase do capitalismo no individual mais do que no coletivo, a valorização da liberdade de escolha, de eu poder agir, seguindo a minha vontade. Elas vêem de encontro a forças poderosas, instintivas, primitivas dentro de nós, às quais somos extremamente sensíveis e que, por isso, conseguem fácil aceitação social.

A tecnologia de redes eletrônicas modifica profundamente o conceito de tempo e espaço. Posso morar em um lugar isolado e estar sempre ligado aos grandes centros de pesquisa, às grandes bibliotecas, aos colegas de profissão, a inúmeros serviços. Posso fazer boa parte do trabalho sem sair de casa. Posso levar o notebook para a praia e, enquanto descanso, pesquisar, comunicar-me, trabalhar com outras pessoas à distância. São possibilidades reais inimagináveis há pouquíssimos anos e que estabelecem novos elos, situações, serviços, que,
dependerão da aceitação de cada um, para efetivamente funcionar.

Uma mudança significativa - que vem acentuando-se nos últimos anos - é a necessidade de comunicar-nos através de sons, imagens e textos, integrando mensagens e tecnologias multimídia. Estamos passando dos sistemas analógicos de produção e transmissão para os digitais. O computador está integrando todas as telas antes dispersas, tornando-se, simultaneamente, um instrumento de trabalho, de comunicação e de lazer. A mesma tela serve para ver um programa de televisão, para fazer compras, enviar mensagens, participar de um debate através de videoconferência, participar da realização, ao vivo, de um projeto com vários colegas, espalhados em vários continentes.

A comunicação torna-se mais e mais sensorial, mais e mais multidimensional, mais e mais não linear. As técnicas de apresentação são mais fáceis hoje e mais atraentes do que anos atrás, o que aumentará o padrão de exigência para mostrar qualquer trabalho através de sistemas multimídia. O som não será um acessório, mas uma parte integral da narrativa. O texto na tela aumentará de importância, pela sua maleabilidade, facilidade de correção, de cópia, de deslocamento e de transmissão.

Os intelectuais ou criticam violentamente as possibilidades dos novos meios ou vêem em cada meio que aparece possibilidades novas de participação dos cidadãos, de elevação do seu nível cultural. Quando surgem o cinema, o rádio e, depois, a televisão ressaltam as possibilidades educacionais, culturais e comunicacionais de cada meio. Mas na realidade esses meios são apropriados pelo capitalismo, que os transforma em indústria, buscando o lucro fácil e universal e que leva ao predomínio de conteúdos de entretenimento e a formas de comunicação mais dirigidas do que participativas. As limitações de interação não eram principalmentetécnicas, mas da forma de organização empresarial capitalista.

Na essência, não são as tecnologias de comunicação que mudam a sociedade, mas a sua utilização dentro do modo de produção capitalista, que busca o lucro, a expansão, a internacionalização de tudo o que tem valor econômico. Os mecanismos intrínsecos de expansão do capitalismo apressam a difusão das tecnologias, que podem gerar ou veicular todas as formas de lucro. Por isso há interesse em ampliar o alcance da sua difusão, para poder atingir o maior número possível das pessoas economicamente produtivas, isto é, das que podem consumir.

As tecnologias de comunicação permitem cada vez mais escolhas. Mas, na prática, há mais possibilidades de interação do que interações efetivas por parte dos consumidores. A sociedade pode, na maior parte das atividades do cotidiano, exercer escolhas das mais simples às mais complexas. Numa televisão, começamos pela escolha (com e sem controle remoto) entre vários e muitos canais (de sete a mais de 150) - vhf, uhf, por satélite, por cabo. Podemos ter mais de um canal na tela (picture in picture), aumentar, diminuir ou eliminar som e/ou imagem. Na TV ou vídeo em estéreo, às vezes, podemos escolher uma narrativa na língua estrangeira ou na língua local. Podemos escolher simplesmente assistir um programa; podemos assistir e gravar o que assistimos, podemos assistir um determinado programa e gravar outro, podemos não estar assistindo nenhum e
gravar, pré-programar.

Escrevemos textos, com mil possibilidades de edição, inserção de imagens, de gráficos, vários tipos de letra, de formatação do texto-imagem, de cores. Os programas de multimídia tornam-se aos poucos mais acessíveis, permitindo o uso e a produção de textos, imagens fixas e em movimento, voz, música, navegando de forma aleatória, não linear, com interferência decisiva do usuário, que, nos programas de hipertexto, pode acrescentar suas próprias informações. Podemos executar programas lineares e complexos, fechados e abertos, sozinhos ou com outros, presencialmente ou à distância. Podemos comunicar-nos à distância com outros, através de redes eletrônicas, enviar, receber e registrar mensagens, procurar informações antigas e novas, prestar e receber serviços. O computador se alia ao CD-ROM e ao DVD e pode gerenciar a leitura e a busca de informação, leituras rápidas seqüenciais e leituras aleatórias, mais interativas; se liga a uma televisão ou a um data-show e amplia para um grupo de alunos os dados e as imagens que estão no computador.

Em síntese, os meios de comunicação, principalmente os eletrônicos, permitem e exigem hoje inúmeras escolhas contínuas, ampliam o leque de possibilidades de interação, tornam a sociedade mais e mais multimídica.

Atualmente estamos passando de um período de escassez de meios eletrônicos (poucos canais) para outro de fartura (com mais de 200 canais por televisão de transmissão direta), com várias tecnologias que permitem compras, serviços bancários, participação em debates sem sair de casa. Os meios eletrônicos permitem hoje, tecnologicamente, uma maior interação que antes. Mas a questão é até onde vai essa interação na prática. Continuará a mesma distância entre quem produz e quem “recebe” as mensagens, ou essa distância está diminuindo?.

Pelas experiências interativas que acompanhamos no exterior, as pessoas as aceitam mais na área de jogos, de concursos, de entretenimento, de escolha de filmes (pay per view ou vídeo on demand) do que em áreas mais exigentes como em informação ou educação. Até agora, nas experiências preliminares com tecnologias interativas, os serviços mais procurados são os mesmos que na televisão convencional: mais e mais lazer. Não sabemos atualmente se essa tendência se modificará nos próximos anos. Mas a nossa hipótese principal é que os
produtores orientam os telespectadores para formas de participação “fáceis” (entretenimento), imediatistas e relativamente simplistas (sim-não, favor-contra), o que expressa atualmente uma conivência implícita com os “telespectadores”, que escolhem também as formas mais fáceis de interação, as que dão menos trabalho, propondo escolhas mais simplistas (sim-não, favor-contra).

Essa tendência acomodada de escolher o mais fácil se aplica ao público, em geral. Mas, ao mesmo tempo, estão despontando formas participativas específicas, mais alternativas como vem acontecendo em alguns canais de acesso público nos Estados Unidos, em televisões comunitárias.

A tendência nestes próximos anos é à fusão da televisão com o computador e o telefone num só meio. A televisão será usada para conversar à distância com as pessoas, vendo-as, para trabalhar em conjunto, para colocar as propostas audiovisuais de cada um na tela. A tendência é que cada um possa ser também produtor e não só receptor. Mas neste momento estamos começando a experimentar formas mais participativas de acesso à televisão por parte de grupos mais organizados, como associações, ONGs, universidades.

A televisão, novo espaço de mediação

Vamos inchando as cidades. As pessoas criam suas redes de trabalho, de comunicação, de vida. Circulam em grupos diferentes, em “tribos” mais ou menos duráveis, importantes. As instituições tradicionais - Igreja, família, polícia, governo, partidos políticos - estão em profunda crise de identidade. Todas elas estão reformulando-se e transmitem uma sensação de inadequação como espaços legítimos de inserção dos indivíduos.

Ao mesmo tempo, os meios de comunicação vêm experimentando um desenvolvimento fantástico, ocupando espaços importantes na nossa vida, tornando-se pontos de referência e de mediação em todas as idades e para todas as atividades. A televisão, pela aliança com o poder econômico via publicidade, se expandem sem parar, realiza as principais mediações dos cidadãos, se transforma nos grandes espaços de identificação de todos nós. “Encontramo-nos” nos meios, no imaginário e na informação, no entretenimento descompromissado e nos grandes momentos para a cidade e para o país. A televisão principalmente é o meio mediador por excelência atualmente, é nosso ponto de referência onde quer que estivermos. Ao viajar por qualquer cidade do Brasil reencontramos os mesmos programas, os mesmos apresentadores, continuamos mantendo o mesmo diálogo
mudo costumeiro.

Diante da crise das instituições políticas, muitas pessoas procuram nos Meios de Comunicação, principalmente na televisão, as saídas pessoais para alguns dos seus problemas. Como a prática da justiça no Brasil costuma ser demorada, é comum procurar a televisão para resolver conflitos, principalmente no campo econômico.

Vamos aos Meios para informar-nos, para divertir-nos e voltamos ao cotidiano para intercambiar nossas percepções, nossos sentimentos, nossas idéias mediadas pela televisão. Agora começamos a ampliar a interação através da Internet, da Televisão paga, mas ainda é na televisão aberta que reencontramos a nossa identidade pessoal, nacional e internacional.

A interação real e a virtual

A maior parte das notícias, das informações não as presenciamos, nos chegam através da mediação de profissionais, de diversas mídias. A maior parte da informação sobre o mundo é virtual, isto é, não a conhecemos pessoalmente, nos é oferecida por terceiros. Nosso contato com o mundo é relativamente pequeno, em termos presenciais: interagimos com poucas pessoas, vivemos em poucos lugares, ocupamos poucos espaços. Ao mesmo tempo, estamos em contato com o mundo inteiro através da comunicação por satélite, pelo cabo, pela Internet, pelo telefone celular, pelos jornais, revistas, rádio, televisão. Por estas tecnologias podemos ter acesso a milhões de notícias, de informações, de conversas com incontáveis pessoas, direta e indiretamente, em tempo real ou não. As possibilidades de navegar virtualmente aumentaram dramaticamente nestes últimos anos e continuam a evoluir sem parar.

Há conflito entre a comunicação física e a virtual? Sim e não. De um lado, a comunicação virtual se espalha tanto, se torna tão mais barata e fácil, que incita às pessoas a acomodar-se, a querer resolver quase tudo através das tecnologias. Por que vou enfrentar o trânsito se o outro pode ver-me e eu a ele? Só irei lá se creio que ganharei mais com a presença do que com a distância. Se tenho que pagar uma conta, até agora preciso deslocar-me até uma agência bancária, sair de casa.

Nessa obrigação, posso encontrar acidentalmente alguém e estabelecer novos contatos. Se posso pagar a mesma conta conectado da minha casa ou escritório, não irei até o banco, a não ser que tenha outras razões pessoais. Muitas saídas anteriores diminuirão. A vida ficará mais facilitada. A tendência normal será estar mais tempo no meu lugar de conforto, na minha casa, no meu quarto, no meu escritório. Passarei mais tempo lá, sozinho e conectado com outras pessoas, vendo-as, ouvindo-as quando achar necessário. Terei muitas razões para isolar-me.

De outro lado, todos precisamos de contatos pessoais, de pele, olho-no-olho, de sentir a pessoa ao lado, compartilhando tempos e espaços exclusivos das nossasvidas. São os espaços que reservamos aos amigos, aos namorados, à família. Esses contatos podem ser alimentados também virtualmente, mas ganham uma dimensão qualitativamente superior através do contato físico. O que considerarmos fundamental nas nossas vidas o faremos presencialmente. As tarefas, serviços, trabalho e a manutenção dos grupos a que pertencemos poderemos fazê-lo virtualmente.

O grau de interação virtual e física variará dependendo da fase de vida de cada um (um adolescente precisa de muito mais contato físico do que um adulto, normalmente). Depende também do tipo de personalidade (há personalidades mais extrovertidas, que precisam do contato físico e outras mais introvertidas, que preferem ficar mais tempo sozinhas). Depende também do grau de equilibração pessoal, de confiança diante da vida e dos outros. Se confio neles, os procurarei mais. Se desconfio, se tenho medo, interagirei menos presencialmente.

Há um exagero em alguns intelectuais diante da força da comunicação em rede. Extraem conseqüências apocalípticas, como se tudo girasse em torno da rede virtual. A comunicação virtual já vem acontecendo há muito tempo nas atitudes básicas das pessoas. Se passo cinco horas por dia vendo novelas da televisão estou em contato durante cinco horas com estórias virtuais. Saio do meu entorno físico para vivenciar, interagir com outras histórias fora de mim. Quando no fim de semana muitas pessoas passam numa locadora e levam 5 ou 10 vídeos para passar o fim de semana, estão preparando-se para mergulhar em outras histórias fora do contexto físico delas. Vivem experiências de comunicação virtual. Quando ligo a TVa cabo e passo horas e horas de um seriado para outro, de um canal para outro, estou entrando em contato com diversas realidades virtuais. Muitos hoje vivem mais interações virtuais do que reais, se emocionam mais com histórias de uma telenovela do que com histórias semelhantes que acontecem ao seu redor.

O que a tecnologia acrescenta agora é a facilidade de estabelecer interações com pessoas reais a distância, ao vivo, a um custo reduzido. Quem quiser interagir hoje vai encontrar muitas possibilidades de realizá-lo. Quem não quiser interagir, quem quiser isolar-se ou viver só num grupo afetivo presencial, continuará podendo fazê-lo tranqüilamente.

As interações psicológicas nas redes eletrônicas

O aparecimento das redes interativas é um fenômeno recente e os estudos sobre as formas de recepção nesta mídia ainda estão em fase de desenvolvimento. O fato da Internet estar se expandindo de forma assustadora está propiciando o aparecimento de uma série de trabalhos que enfocam como o receptor esta interagindo através de processos de comunicação virtual. A dimensão psicológica do ciberespaço e da internet apresenta algumas peculiaridades, especialmente relacionadas aos ambientes de chat, sítios na internet onde os navegadores conversam em tempo real. O professor John Suler, Ph.D. da Rider University disponibilizou na Internet um site sobre o assunto que pretende ser um centro virtual de discusssão sobre a psicologia do ciberespaço e cujo o endereço é www.rider.edu/users/suler/psycyber/psycyber.html.

Segundo seus estudos, as duas principais características psicológicas das redes interativas são a noção de espaço e o determinismo tecnológico. A análise psicológica da interação nas redes pode começar a partir do próprio termo “ciberespaço”. Usuários da internet sempre definem o uso do computador na internet através de termos relativos a espaço, tais como “navegar” e “site” (sítio).

Conscientemente ou inconscientemente, usuários da internet sempre sentem que “entraram” em um sítio ou “visitaram” alguma página. Tendo a maior parte de suas relações influenciada por isso. No que se refere ao determinismo tecnológico, muitas características do ciberespaço são explicitadas a partir de limitações ou avanços da tecnologia disponível. Atualmente, em ambientes de chat (conversa em tempo real entre duas ou mais pessoas através de mensagens escritas na tela) é ainda muito difícil ver com quem se está conversando, o que permite a criação de personagens fictícios e mentiras referentes a aparência em ambientes que trabalham só com o texto. É relativamente comum por exemplo, que senhores de 40 anos se passem por meninas de 15 ou que garotos passem por mulheres para freqüentar salas exclusivas para gays. Com a possibilidade de ver com quem se está conversando, alguns destes artifícios não serão mais possíveis ou terão de ser mais elaborados, mudando suas características psicológicas. Como a habilidade de ver e ouvir outras pessoas através da internet mudará o ciberespaço? Os navegadores desejarão ser vistos ou a visão e audição através das redes será sempre uma opção?

Existem também outras características básicas da interação que são comuns a todas as formas de recepção dentro das redes. Em primeiro lugar, devido a estas limitações tecnológicas de que falamos anteriormente, a experiência sensorial na internet ainda é limitada, e a maior parte das interações são feitas através de texto escrito. Depois, chats e e-mails possibilitam anonimato e flexibilidade de personalidade. O usuário pode esconder partes de si mesmo que não goste ou mesmo inventar uma outra personalidade.

A internet possibilita também a chamada “net-democracy” já independentemente dos recursos tecnológicos que os usuários utilizem, ao entrar na internet estão todos em um mesmo nível, sem nenhuma diferenciação aparente. Ainda dentro desta democracia, podemos dizer que não existem limites espaciais (não importa de onde alguém está teclando) ou temporais (grupos de discussão podem se estender ao longo de anos).

Outra característica determinante da interatividade no ciberespaço é a possibilidade de manter gravado tudo o que foi escrito, permanentemente. A internet permite que se grave tudo o que se refere a um determinado relacionamento. O usuário pode lembrar tudo o que disse para outra pessoa, já que pode ter todos os e-mails que mandou gravados no hard-disk . Por fim o acesso a vários relacionamentos também é próprio da internet. Com uma relativa facilidade, um usuário pode contatar pessoas de todo o globo e se comunicar simultaneamente com várias delas ao mesmo tempo através de e-mails ou de janelas específicas. A habilidade de filtrar relacionamentos dentro da rede amplifica o uso de motivações inconscientes junto com escolhas conscientes na seleção de amigos,amantes e inimigos.Expectativas secretas, desejos e medos inconscientes determinam, dentro desta infinidade de possibilidades, como o navegador vai interagir, aproximando as relações dentro das redes com as de fora delas.

As relações de interação dentro do ciberespaço retêm muitas das características dos espaços freqüentados pelo navegador em sua vida quotidiana. O ciberespaço jamais deixará de ser uma extensão do indivíduo. Pesquisadores da área sugerem o estudo de como diferentes tipos de personalidade interagem no ciberespaço para se chegar a um estudo completo de suas dimensões psicológicas. Algumas suposições podem ser feitas: Esquizofrênicos podem aproveitar a falta de intimidade provocada pela menor proximidade; Narcisistas podem gostar da internet pela possibilidade de numerosos relacionamentos como um meio de conseguir uma platéia e

Compulsivos podem gostar da possibilidade de controle e manipulação do meio ambiente. Por fim, a internet se torna um ambiente extremamente sedutor para adolescentes por oferecer todos os atrativos do mundo real (sexo, novas pessoas para conhecer...) dentro de seu quarto, quase sem nenhum perigo para o jovem navegador.

Analisando a combinação das características psicológicas próprias das redes interativas e as características dos relacionamentos “físicos” absorvidas pelo meio vemos que redes como a internet possuem uma dinâmica muito própria. É obvio que mídias como a televisão e o rádio possuem suas características próprias também, mas as novas formas de interação criadas com o aparecimento destas redes criaram uma nova dimensão para o usuário. Especialistas em tecnologia apontam a internet de hoje como o embrião para a maioria das formas de comunicação mediatizadas do futuro. O que não se sabe é simplesmente se é a internet que vai englobar as outras mídias dando a elas a sua forma ou se suas formas de comunicação vão contaminar as outras mídias através da fusão entre computador, TV e rádio.

Dentro disto torna-se cada vez mais necessário estudar as dimensões psicológicas da internet preparando terreno para as novas formas de interação decorrentes desta fusão. Até que ponto as características psicológicas presentes no ciberespaço de hoje poderão influir na produção da TV de amanhã? Com a digitalização da TV, o telespectador e o navegador serão a mesma pessoa, cabendo aos pesquisadores acompanhar de perto as interações entre o mundo real e o mundo cibernético com tecnologias integradas.

Participação e controle nas novas mídias

Há uma tensão permanente nos meios de comunicação entre o mercado e a cidadania. Enquanto mercado, estão organizados como empresas capitalistas, visando o maior lucro possível, procurando novos nichos, segmentando mais e mais o público - mídias locais, pessoais - simultaneamente com a estruturação mundial de mega-conglomerados que integram todas as mídias ao nível mundial.

Enquanto cidadania, os meios eletrônicos são públicos - da sociedade -, gerenciados pelo Estado e concedidos a grupos econômicos. Espera-se, em troca, serviços que nos ajudem a compreender melhor a realidade (informação relevante), diversão variada e possibilidades de educação permanente, tanto no nível pessoal como no comunitário. Tem prevalecido, na prática, a busca do lucro, a competitividade feroz, a dependência empresarial, via publicidade, a oscilação entre a informação importante e o marketing, a informação como produto consumível e filtrada por interesses.

Estamos numa etapa de transição quantitativa e qualitativa das mídias eletrônicas. Estamos passando de uma fase de carência de canais para uma outra de superabundância. Na TV a Cabo e por Satélite podemos aumentar o número de canais pela compressão digital até várias centenas. Mesmo a televisão aberta (VHF) vai poder proximamente, com a TV digital, multiplicar por cinco o número de canais ofertados.

Até agora há, no Brasil, dois avanços legais - nas nossas leis - na busca de várias formas de participação social na mídia eletrônica, principalmente na televisão. Um é a criação do Conselho de Comunicação Social, vinculado ao Poder Legislativo, previsto na Constituição de 1988, com representantes das várias partes envolvidas, incluindo os telespectadores, e que só recentemente foi implementado. O segundo avanço é a obrigatoriedade, na lei da TV a Cabo, de abrir canais locais comunitáriose para educação e cultura. É uma gota de água perdida dentro das avassaladoras alianças com grandes grupos que oferecem dezenas de canais basicamente de entretenimento. Mas é um sintoma claro de que a sociedade expressa a sua vontade de participar mais diretamente do que o fez no passado.

Atualmente a Internet está começando a correr por fora, como uma nova mídia, surgida nas universidades e que, nos dois últimos anos, está abrindo-se também para o mercado. Muitos grandes sites - como os programas de busca - se sustentam com anúncios, como nas outras mídias convencionais. A Internet até agora é a mídia mais aberta, descentralizada e, por isso mesmo, mais ameaçadora para os grupos políticos e econômicos hegemônicos. Nas universidades não representava uma ameaça social. Como ela vai conquistando um número maissignificativo de cidadãos, a “tentação” do Estado e dos grupos mais poderosos de controlá-la vai tornar-se cada vez mais forte. Como há na Rede conteúdos problemáticos e pessoas inescrupulosas, a pressão para o controle aumentará. A grande ameaça da Internet não são os conteúdos violentos ou pornográficos, mas a possibilidade real de pessoas oferecerem serviços, que podem competir com os convencionais de outras mídias. Uma pessoa ou grupo pequeno pode fazer uma revista, montar uma emissora de rádio ou de televisão, sem pedir autorização a ninguém. O aumento dessas situações novas, concretas, testará a liberdade da Internet.

Universidades, associações, ONGs precisam mostrar a sua competência nos espaços atualmente existentes, e lutar para obtê-los nas emissoras de baixa potência e a estar em Conselhos que possam negociar novas formas de participação da sociedade nos meios, e estabelecer limites à força do poder econômico.

A educação mais crítica, nas escolas e universidades, também nos ajudará a que a sociedade apoie iniciativas de participação maior em todas as mídias, principalmente nas novas e a estarmos atentos a não aceitar novas formas de controle, que tentarão ser implantadas nestes próximos anos. Os grupos que gerenciam os meios de comunicação tendem a limitar as formas de participação, reduzindo-as ao lúdico, a incentivar concursos, jogos, premiações econômicas, enquanto “esquecem” formas de debate mais amplas em todas as dimensões significativas da nossa vida.

As tentativas de controle da Internet também aumentarão porque atualmente ela desafia todos os padrões centralizados tanto da mídia impressa como da eletrônica. Na Internet encontramos uma possibilidade real de expressar-nos de forma mais livre, de escolher o que nos interessa, de acessar tanto os grandes sites como os alternativos, os de pessoas e pequenos grupos. As pressões maiores virão dos empresários das mídias convencionais, quando a Internet se tornar um grande negócio, porque eles vão querer também dominar esse novo campo de negócios, esse novo mercado. Depende da nossa maturidade e organização como sociedade conseguir marcar presença nos velhos e nos novos meios, mostrando nosso valor mais como cidadãos do que como consumidores.