segunda-feira, 29 de junho de 2009

O panorama do rádio no Brasil

Pensar em rádio no panorama nacional é uma tarefa inusitada para o professor. Acostumados a ouvir rádio, usar o rádio de forma educativa é não só instigante como nos convida a refletir sobre essa mídia, numa perspectiva inovadora. A Produção Radiofônica passa a constituir-se em um objeto de leitura, e, assim, “fazer rádio” é o desafio.

Dentre os aspectos históricos, sócio-culturais e tecnológicos que envolvem a produção radiofônica, o papel do “ouvinte” pode ser observado em duas perspectivas: (i) como um que realiza a atividade de leitura(1) específica do texto radiofônico – nas ondas do rádio; e (ii) como cidadão, que pode e deve participar efetivamente da produção dos textos produzidos para a mídia Rádio. Este duplo papel do cidadão, em qualquer esfera de atuação social, é reflexo de mudanças na relação com o Rádio.

A história dos “gestos de leitura radiofônica(2)”, até a segunda metade do século XX no panorama da radiodifusão nacional, apresenta um ouvinte passivo, receptor do produto final difundido pelas ondas do rádio, e que vai se transformando em um novo ouvinte, aquele que participa da produção do texto radiofônico com suas colaborações externas, que vão ao ar durante a exibição do programa, ou mesmo ao vivo, com o auxílio dos recursos tecnológicos disponíveis nos tempos atuais (quem já não ouviu uma “pegadinha” ?!).

O século XXI consagra esta mudança e caracteriza-se pela presença marcante – eu diria insistente – da palavra “interativo”, revelando o desejo premente de fazer da “produção” uma atividade democrática e cidadã. 

É neste sentido que falar em “Mídia na Educação” se faz realidade, e pensar o PANORAMA DA RADIODIFUSÃO NACIONAL um momento de leitura fundamental para a consolidação do objetivo de nosso encontro: desenvolver a competência comunicativa(3) dos alunos, descobrindo o Rádio.
Profª Dilma Luciano (UFPE)

Notas:
(1) “No mundo antigo, na Idade Média, nos séculos XVI e XVII ainda, a leitura implícita mas também efetiva de numerosos textos é uma oralização, e seus ‘leitores’ são os ouvintes de uma voz leitora. Dirigido assim tanto ao ouvinte quanto aos olhos, o texto joga com formas e fórmulas aptas a submeter o escrito às exigências próprias da performance oral” (CAVALLO & CHARTIER, em História da Leitura, vol 1, São Paulo/Editora Ática, 1998- página 08). 

A História da leitura no mundo ocidental revela a importância da leitura em voz alta (LVA) da Antiguidade Clássica aos dias atuais. O século XX registra a legitimação de uma nova forma de leitura em voz alta, em versão inovada pelo suporte que a propôs: as ondas de rádio. 

CAVALLO e CHARTIER (op. cit.), estudiosos dos gestos de leitura, propõem uma reflexão histórica sobre a maneira pela qual se dá o encontro entre “o mundo do texto” e “o mundo do leitor” e ressaltam que o sentido do texto está intrinsecamente ligado às formas e às circunstâncias por meio das quais o texto é recebido e apropriado por seus leitores (ou seus ouvintes- lembram os autores). Usam tais reflexões para afirmarem que os leitores “manipulam objetos, ouvem palavras cujas modalidades governam a leitura (ou a “escuta”) e, ao fazê-lo comandam a possível compreensão do texto” (p.6.). Os leitores não são confrontados com textos abstratos, ideais, desligados, portanto, de qualquer materialidade, nem são passivos no confronto. Assim é preciso não desprezar o fato de que “as formas produzem sentido e que um texto se reveste de significação e de um estatuto inéditos quando mudam os suportes que os propõem à leitura”.

(2) Observando os textos de rádio e de televisão, verificamos que eles ocultam estratégias ‘massificantes’ que podem e devem ser desveladas durante o processo de ensino aprendizagem de leitura nas escolas. Entendemos, assim, a leitura como um processo de construção de sentido para o qual concorrem estratégias não apenas lingüísticas, mas cognitivas e culturais. Sem privilegiar ou depreciar o valor dos dados lingüísticos, isto significa partirmos do pressuposto de que a compreensão é uma forma de diálogo leitor-texto a partir das pistas oferecidas pelo próprio texto, que levam o leitor a acionar o que lhe é externo e deve ser recuperado pelo leitor numa atividade de interlocução. (LUCIANO, Tese de doutoramento intitulada "Prosódia e envolvimento na compreensão do telejornal", PPGLL-UFPE, 2000).

(3) Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem como objetivo da escola o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno. Saber ler e escrever ganha uma nova dimensão, dando ênfase ao grau de letramento como resultado da condição daquele que sabe ler e escrever e do uso que faz dessas habilidades. (cf. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte:
Autêntica, 1998. Obra pioneira no tratamento ao tema).

Fonte: Webeduc-MEC

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