quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Situando o uso da mídia em contextos educacionais

Maria Cecília Martinsi

Dentre os pressupostos educacionais relevantes para a época atual, considera-se que as múltiplas dimensões do ser humano - intelectual, emocional, social, cultural, entre outras - precisam ser revitalizadas nas propostas educacionais atuais.

Assume-se que uma visão integrada do ser humano e de suas ações implica a proposição de contextos nos quais os indivíduos se apercebam como múltiplos, complexos, dinâmicos, criativos e responsáveis.

Com base nessa visão integrada, faz-se necessário compreender o indivíduo como alguém que, impregnado pelo mundo social e cultural, se expressa em sua totalidade física, emocional, intelectual e cultural. Assim, considerar a visão integrada de indivíduo requer um atento olhar para o potencial expressivo e criador inerente a todo ser humano.

Como pressuposto educacional atual, assume-se, também, que o conhecimento do indivíduo se nutre e se desenvolve no contexto em que atua, que seus saberes são recriados em seu fazer cotidiano, em interação com outros atores sociais e com os signos presentes na sociedade. Assume -se, além disso, que o indivíduo se constitui na totalidade das relações sociais, em espaços que permitam emergir vozes diversas, estimulando o respeito e o diálogo entre seres “únicos”. Considera-se ainda como base educativa, a possibilidade de os indivíduos encontrarem espaços e tempos para se constituírem, contínua e dinamicamente, mediante experiências múltiplas, podendo criar, por intermédio de ações, a vida em todas as suas manifestações.

Integração de materiais e mídias diversificadas na prática educacional

No desencadeamento da prática educacional, destaca-se também a integração de materiais e mídias diversificadas para que os alunos possam interpretar e dar respostas ao que acontece no mundo que os cerca. Além dos recursos materiais e tecnológicos, a proposição de atividades deve buscar relacionar o que é ensinado na escola com as atuações dos alunos em determinados contextos. As at ividades propostas devem desencadear situações que permitam a investigação, o estabelecimento e o compartilhamento de idéias entre o grupo, deixando vir à tona seus cotidianos e suas impressões sobre o mundo. O cultivo dessas premissas favorece a manutenção de um compromisso com a paixão pelo aprender, pela investigação, pela imaginação, pela reflexão, pela criação.

Em relação às práticas educacionais, o momento atual requer, essencialmente, uma cultura que acredite no ser humano, em suas capacidades e potencialidades; evidenciam, também, que a educação deve orientar-se para ganhos sociais maiores, tais como afirmar a individualidade e confiança no ser humano, assegurar que sua expressão possa ocorrer de diferentes formas e em diversas práticas sociais.

Desafios e possibilidades da era digital

Os desafios contemporâneos requerem um repensar da educação, diversificando os recursos utilizados, oferecendo novas alternativas para os indivíduos interagirem e se expressarem. Repensar a educação envolve diversificar as formas de agir e de aprender, considerando a cultura e os meios de expressão que a permeiam.

Sob tais desafios, a era digital encerra novas possibilidades para os indivíduos realizarem suas ações em contextos distintos e com mídias diferenciadas. As tecnologias de informação e comunicação podem favorecer a constituição de uma teia entre a escola e o cotidiano no qual o indivíduo atua, configurando novos caminhos para ele interagir e desenvolver suas constantes compreensões sobre o mundo e sobre a sua cultura.

Diante dessas constatações e desafios, o uso de mídia em contextos educacionais requer práticas que instiguem novas possibilidades de aprendizagem e a vivência de processos criativos, com diálogos e interações múltiplas.

Processo de desenvolvimento e diversidade expressiva do ser humano diante dos elementos tecnológicos atuais

O indivíduo, ao longo de sua vida, aprende sobre coisas variadas em diferenciadas situações, integrando e relacionando vários conteúdos, articulando inúmeras estratégias e formas de atuar.

No processo de desenvolvimento, o indivíduo aprende interagindo com diferentes pessoas e objetos, realizando ações, investigando possibilidades, elaborando criações em vários campos, utilizando variados artefatos culturais, mobilizado por necessidades e interesses individuais e coletivos, assumindo desafios, enfrentando suas limitações momentâneas e ampliando suas possibilidades múltiplas.

Há, na maioria de suas ações, inúmeros ingredientes que vão sendo elaborados, transformados e mobilizados: representações, informações, opiniões, crenças, hábitos, aptidões, saberes, estratégias, capacidades, noções, gostos, sentimentos, atitudes, normas, modelos, valores, além de formas de fazer, de sentir, de perceber, de refletir (Perrenoud, 2001).

No processo de desenvolvimento do indivíduo, seu conhecimento e sua visão de mundo são construídos e constantemente reconstruídos através das ações que realiza e das interações estabelecidas com outras pessoas, bem como com os elementos de sua cultura.

Conforme aborda Novaes (1992), o potencial de expressão dos indivíduos é imenso e pluridimensionado, sendo utilizado, porém, de forma muito limitada. Segundo essa autora, vem ocorrendo um desperdício das possibilidades humanas, muitas delas sendo desconsideradas, bloqueadas ou inibidas por falta de orientação, de estímulo e de um ambiente favorável e encorajador à atuação e ao desenvolvimento pessoal.

Aliado à diversidade expressiva do ser humano, cumpre observar o fato de que vivemos em uma sociedade cada vez mais informatizada e repleta de elementos imagéticos, sonoros e textuais. Em várias atividades que exercemos em casa, no trabalho ou no lazer, utilizamos intensivamente as tecnologias de comunicação e informação. Cada vez mais, esses recursos são úteis e necessários para atuar em situações que se transformam a cada momento, para desenvolver idéias, atribuir sentido ao que nos rodeia e ver a realidade sob ângulos diversos.

Embora essas tecnologias estejam presentes em vários segmentos da nossa vida, percebe-se ainda uma distância entre esses referenciais culturais e o seu uso em contextos educacionais.

Dificuldades para apropriação de recursos tecnológicos na educação

Alguns fatores que dificultam a apropriação de recursos tecnológicos no contexto educacional são as cristalizações nas configurações educacionais no que se refere a espaços, tempos, atividades, conteúdos e formas de interação entre os alunos e professores. Além da rigidez estrutural, há o distanciamento das propostas educacionais com as demandas atuais da sociedade em termos de se atender ao desenvolvimento integral e contínuo dos indivíduos considerando os aspectos sociais, econômicos e culturais. Assim, as atividades e conteúdos são apresentados desvinculados do cotidiano e do contexto em que o indivíduo vive. O fazer e o criar são pouco promovidos. Desconsidera-se que o indivíduo, ao longo de sua vida, aprende sobre coisas variadas em diferenciadas situações, integrando e relacionando vários conteúdos, articulando inúmeras estratégias e formas de atuar.

Desconsidera-se também, que, no processo de desenvolvimento, o indivíduo aprende interagindo com diferentes pessoas e objetos, realizando ações, investigando possibilidades, elaborando criações em vários campos, utilizando variados artefatos culturais, mobilizado por necessidades e interesses individuais e coletivos, assumindo desafios, enfrentando suas limitações momentâneas e ampliando suas possibilidades múltiplas.

Além da diversidade de interações e conteúdos que o indivíduo lida ao longo de seu desenvolvimento, há, na maioria de suas ações, inúmeros ingredientes que vão sendo elaborados, transformados e mobilizados: representações, informações, opiniões, crenças, hábitos, aptidões, saberes, estratégias, capacidades, noções, gostos, sentimentos, atitudes, normas, modelos, valores, além de formas de fazer, de sentir, de perceber, de refletir (Perrenoud, 2001). Em relação à construção de conhecimento, Ackermann (1991a) enfatiza também que o conhecimento se nutre e se desenvolve no contexto em que o indivíduo atua, ou seja, que o conhecimento é essencialmente situacional. No processo de desenvolvimento do indivíduo, seu conhecimento e sua visão de mundo são construídos e constantemente reconstruídos através das ações que realiza e das interações estabelecidas com outras pessoas, bem como com os elementos de sua cultura.

Fluência tecnológica

Além da necessidade de o indivíduo atuar, estabelecendo interações, desenvolvendo e nutrindo seus conhecimentos, a fluência tecnológica na era digital requer a realização de ações em contextos distintos e por mídias diferenciadas. As interações que se estabelecem com o uso de diferenciadas mídias também parecem favorecer a construção de conhecimentos, uma vez que, segundo Vygotsky (1988), o indivíduo constrói pessoalmente os seus conhecimentos nas interações com outros atores sociais e a partir das interações com os signos e instrumentos presentes na sociedade. O uso dos recursos das diferentes mídias pode contribuir para o indivíduo desenvolver suas compreensões sobre o mundo e sobre a cultura em que vive, além de provocar transformações nas formas de perceber e apreender a realidade.

Os novos caminhos configurados com os elementos tecnológicos podem, potencialmente, ampliar as maneiras com que os indivíduos realizam algumas atividades, as formas de interação e os espaços de socialização de saberes, emoções, afirmações, investigações e indagações.

Diante das possibilidades de uso desses referenciais culturais em contextos educacionais, há necessidade de se desenvolver propostas de trabalho que utilizem vários tipos de tecnologias e meios de comunicação em atividades pedagógicas.

As atuais tecnologias de comunicação e interação apresentam novas possibilidades para o indivíduo vivenciar processos criativos, estabelecendo aproximações e associações inesperadas, juntando significados anteriormente desconexos e ampliando a capacidade de interlocução por meio das diferentes linguagens que tais recursos propiciam.

Diante das inúmeras possibilidades pedagógicas que as diferentes mídias oferecem, da complexidade da realidade que o aluno vive atualmente, das mudanças de representações, valores sociais e saberes disciplinares, a educação necessita ser repensada, diversificando os recursos que utiliza (Edwards, 1999). Há necessidade de se oferecer alternativas para que o aluno possa representar e expressar o conhecimento e, assim, aprender a orientar-se e a encontrar referências que permitam, de forma significativa, analisar, selecionar, interpretar e fazer uso da avalanche de informações que recebe diariamente. Repensar a educação, considerando a cultura e os meios de expressão que a permeiam, tem a função de potencializar a interpretação do que está sendo aprendido a partir de diferentes pontos de vista, favorecendo a tomada de consciência dos alunos sobre si mesmos e sobre o mundo do qual fazem parte.

Propostas educacionais baseadas no uso de várias mídias e recursos tecnológicos são fundamentais para ajudar o aluno a compreender a realidade, examinar os fenômenos que o rodeiam de uma maneira questionadora, contribuindo, não só diante das experiências cotidianas, mas também diante de outros problemas e realidades (Hernández, 2000). No contexto atual, torna-se indispensável a capacidade de pensar a realidade criticamente, de conseguir selecionar a informação e de interrelacionar conhecimentos (Baccega, 1999).

Na atualidade temos a oportunidade e o desafio de repensar os contextos educacionais abrindo espaço às novas possibilidades tecnológicas. Há que se considerar o fato de que os espaços e tempos educativos estão ligados às formas de comunicação, às linguagens utilizadas, aos meios empregados, às interações que surgem no contexto em que a ação educativa ocorre. As novas configurações possibilitadas pelas tecnologias da comunicação e da informação aportam novas dimensões que permitem estruturar contextos educativos mais ricos, variados e complexos. Para Alves (2001), tais reestruturações se tornam possíveis quando se permite “incluir o mundo na aula” e a “aula no mundo”, fazendo, assim, caírem alguns dos fortes muros conceituais, arquitetônicos e tecnológicos.

A velocidade da transformação tecnológica nos locais de trabalho tem sido um dos fatores que têm aumentado a importância da necessidade dos indivíduos desenvolverem a capacidade de aprender novas habilidades, de assimilar novos conceitos, de avaliar novas situações, de lidar com o inesperado. Outro fator tem sido a necessidade de adoção de ações mais eficazes frente à multiplicidade, diversidade e complexidade dos problemas mundiais existentes nas esferas individual, social e planetária.

Diante da necessidade de serem diversificadas as possibilidades e formas de agir e aprender, as tecnologias de informação e comunicação - rádio, televisão, vídeo, computadores e todas as suas combinações - abrem oportunidades para a ação dos indivíduos e a diversificação e transformação nos ambientes de aprendizagem.

Tais ambientes requerem novas dinâmicas, propostas, atuações e interações, bem como novas organizações de tempos e espaços, para que os indivíduos possam utilizar as novas mídias para expressarem e desenvolverem suas vozes particulares e coletivas.

i Doutora em Multimeios – Instituto de Artes da UNICAMP e Pesquisadora do Núcleo
de Informática Aplicada à Educação – NIED-UNICAMP.


Um comentário:

  1. Boa noite,

    Em primeiro lugar quero elogiar seu trabalho neste blog porque não são todas as pessoas que se preocupam realmente com a educação e como que o ser humano pode ajudar neste sentido.
    Acredito que a tecnologia da informação, em especial o blog, pode ser muito explorado neste sentido, porque é uma forma atrativa, onde as pessoas também podem colocar suas opiniões e ouvir as opiniões dos outros.
    Gostei muito da iniciariva de promover a educação, contribuindo para uma educação mais eficaz em nosso País.
    Aline.

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